Conferência na Polônia reforça o esforço global para salvar o planeta

Evento internacional sobre mudanças climáticas revela ausência de fronteiras para o problemaEnquanto catarinenses lutavam nessa segunda, dia 1º, para recuperar vidas destruídas pela enxurrada dos últimos dias, e Veneza, na Itália, enfrentava a pior enchente em mais de duas décadas, na Polônia era aberta a 14ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Embora distantes no mapa, essas regiões e esses acontecimentos fazem parte da mesma cadeia global que une possíveis efeitos da alteração nos padrões do clima no mundo e esforços para conter o aquecimento global.

Assim, ao mesmo tempo em que representantes de diversos países procuram traçar o futuro pós Protocolo de Kyoto na cidade polonesa de Poznan, gaúchos investigam o gelo da Antártica para entender melhor como as ações humanas podem afetar a atmosfera. Da mesma forma que a ameaça trazida pelas mudanças climáticas não conhece fronteiras, a busca conjunta por soluções em diversos pontos do planeta é um dos caminhos para um futuro climático mais favorável.

1 – Antártica

No continente antártico, uma missão brasileira que estuda as mudanças climáticas completou nessa segunda, dia 1º, as suas primeiras 24 horas de atividade. Os oito integrantes do grupo pioneiro, liderado pelo glaciologista Jefferson Cardia Simões, do Rio Grande do Sul, chegaram em um avião de carga ao solo antártico na madrugada de domingo ? perto da 1h pelo horário de Brasília. A primeira tarefa do grupo no local batizado de Patriot Hills, a cerca de 2 mil quilômetros da estação brasileira Comandante Ferraz, foi montar o acampamento-base, de onde deverão partir para missões de pesquisa e coleta de materiais. Os sete pesquisadores brasileiros (o oitavo é chileno), em sua maioria vinculados à UFRGS, vão fazer perfurações no solo antártico para remover cilindros de gelo cuja composição química pode fornecer pistas sobre o clima na Terra no passado. As conclusões são fundamentais para entender a evolução das condições do tempo no planeta e entender melhor as mudanças climáticas atuais e o futuro do aquecimento global.

2 – Rio Grande do Sul

O Estado deverá se tornar um pólo de pesquisa glacial por meio da criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, localizado na UFRGS e dedicado a pesquisar os 10% do globo permanentemente cobertos por gelo ou neve.

O instituto, cuja criação foi recentemente confirmada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em BRASÍLIA, vai integrar sete laboratórios associados de quatro Estados diferentes que se dedicam ao estudo da variabilidade de componentes da massa de gelo no planeta e sua resposta a mudanças climáticas. Além de investir no instituto gaúcho e em outros cem centros de pesquisa de diversas áreas em todo o país, o governo federal anunciou ontem as principais diretrizes do Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

3 – Brasília

Revelado pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o plano do governo federal estabelece uma meta de redução de 72% no desmatamento no país até 2017. Ela deverá ser atingida de forma escalonada ? até 2009, por exemplo, o objetivo é reduzir o desmatamento em 40% em relação à média histórica registrada entre 1996 e 2005. O plano também pretende reduzir a emissão de gases investindo em fontes de energia menos poluentes, como o etanol. Além disso, Lula pediu que sejam feitos estudos para evitar que a tragédia causada pela chuva em Santa Catarina volte a ocorrer.

Os ambientalistas também aguardam uma mudança de posicionamento de um dos principais poluidores do mundo, os Estados Unidos.

4 – Estados Unidos

A eleição de Barack Obama para a Casa Branca renovou a esperança de parte dos ambientalistas ao redor do mundo de que os americanos se comprometam com metas objetivas de redução de emissão de poluentes. O país se negou a firmar compromissos de redução na emissão de poluentes estabelecidos em acordos internacionais como o Protocolo de Kyoto.

No momento, os Estados Unidos manifestam interesse em buscar petróleo na região do Ártico, onde poderia estar até um quarto das reservas mundiais. O plano é rejeitado por ambientalistas pelo impacto que poderia trazer à vida na região ártica.

5 – Ártico

Cientistas americanos advertiram que a área coberta de gelo no Ártico se reduziu este ano a seu segundo menor nível desde o início dos registros por satélite, há 30 anos. O derretimento do gelo ártico ainda reforçaria o fenômeno do aquecimento global, já que águas abertas absorvem mais energia do sol que o gelo. A redução da calota ártica é relacionada ao efeito estufa, causado por gases como o dióxido de carbono (CO²) ? uma grande preocupação ambiental na União Européia, já que se trata de um subproduto do carvão, uma das principais fontes de energia no bloco.

6 – União Européia

Os Estados-membros e a Comissão Européia chegaram ontem a um acordo para escalonar a implantação de limites na emissão de CO2 por parte de automóveis 0km. Dessa forma, a partir de 2012 65% dos automóveis recém-saídos de fábrica deverão reduzir as emissões a 120 gramas por quilômetro, chegando a 100% em 2015. Ambientalistas, porém, consideraram essa meta tímida demais. Enquanto no bloco como um todo a redução de emissões ainda gera polêmica, na Alemanha elas representam uma vitória.

7 – Alemanha

O país se destaca na União Européia ? diminuiu em 22% a poluição com gases em 2007 na comparação com o início dos anos 90, segundo revelado na semana passada. Isso faz com que o país supere as metas do Protocolo de Kyoto, cujo substituto está sendo discutido agora na Polônia.

8 – Polônia

Enviado Especial/Poznan, Polônia

Gustavo Bonato*

Em Poznan, a crise econômica se tornou mais um elemento nas já complicadas negociações para reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa. A abertura da 14ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (foto à esquerda), na manhã de ontem, foi recheada de discursos e apelos para que governos aceitem tomar medidas de contenção. A intenção é combater a tempo o aquecimento global, cujos efeitos, como o aumento nos níveis de mares e oceanos, podem estar prejudicando cidades como Veneza, na Itália.

* Gustavo Bonato participa da conferência a convite do Climate Change Media Partnership

9 – Itália

A pior enchente em mais de 20 anos em Veneza, provocada por maré alta e chuvas fortes, forçou moradores e turistas a caminharem por ruas alagadas ontem. O nível do mar subiu 1,56 metro pela manhã, bem acima do 1,10 metro que costuma marcar o fenômeno de maré alta que ocorre em Veneza nas épocas de chuvas fortes do Mar Adriático. Cientistas acreditam que o fenômeno tem ligação com o aquecimento global. Entre os locais afetados está a Praça de São Marcos. Boa parte da energia consumida na Itália vem de gasodutos desde a Rússia, país que poderá ver um lado bom nas mudanças climáticas.

10 – Rússia

A Rússia é o segundo produtor mundial de petróleo e o maior de gás e, segundo a inteligência americana, deverá ser o país mais beneficiado pelo aquecimento global. A principal razão disso é que, com o acesso facilitado a reservas de gás e petróleo em regiões do norte atualmente cobertas de gelo, como a Sibéria, isso aumentaria a capacidade de produção de energia daquele país.

O estudo elaborado pelo Conselho de Segurança Nacional dos EUA aponta que pode ser necessário desenvolver novas tecnologias para chegar a essas reservas de combustível. Em compensação, as mudanças climáticas ameaçam a própria existência de outros países, como Bangladesh.

11 – Bangladesh

Pelo menos 30 milhões dos mais de 140 milhões de habitantes de Bangladesh, na Ásia, sofrem a ameaça iminente do aquecimento global. Essa é a população mais exposta a inundações e tufões. A situação geográfica do país favorece grandes enchentes, já que está pouco acima do nível do mar e abriga a foz de três grandes rios, o Ganges, o Brahmaputra e o Meghna.

Previsões indicam que até 70% das terras mais baixas de Bangladesh podem simplesmente sumir do mapa com uma elevação do nível do mar de menos de um metro. Um dos fatores que mais contribuem para isso é o derretimento do gelo da Antártica, onde um grupo de cientistas brasileiros responde pela primeira missão nacional a chegar ao interior do continente.