Nesse novo contexto, em vez de atacar instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, os países em desenvolvimento deveriam buscar uma representatividade maior dentro dessas organizações, cuja extinção seria prejudicial principalmente para eles mesmos.
Milner descreveu o processo de ascensão dos países em desenvolvimento no cenário mundial durante conferência apresentada no 6º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), que terminou nesta sexta-feira, dia 1º, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A pesquisadora destacou três fatores responsáveis pelas mudanças das relações entre o Sul e o Norte do planeta: globalização, desenvolvimento e governança internacional. De acordo com ela, “esses três itens formam uma combinação única, nunca antes vista” e a balança do poder mundial tem encontrado outros pontos de peso que não se limitam ao poderio financeiro ou militar de um país.
? Não podemos dizer que o poder militar, por exemplo, seja hoje determinante para que uma nação exerça influência sobre outras. Brasil, Coréia do Sul e Japão são países influentes em suas regiões e não é por causa de seu poderio militar ? argumentou.
Segundo ela, outros tipos de poder também devem ser determinantes nas relações internacionais, como o das idéias ou o da política doméstica. Conforme Milner, para as nações se desenvolverem é preciso tranqüilidade interna, o que não vem ocorrendo com a China, por exemplo, onde obstáculos locais poderão se tornar uma pedra no caminho do gigante asiático. Ela destacou o aumento da desigualdade social chinesa que caminha junto com o desenvolvimento.
? As classes sociais estão enriquecendo, mas não na mesma proporção, e esse aumento das desigualdades também preocupa o mundo ? disse, prevendo um aumento dos focos de tensões internas em nações como a China e que podem atrapalhar o desenvolvimento mundial.
Por dentro do poder
A professora de Princeton criticou os ataques às instituições internacionais como o FMI e o Banco Mundial dizendo ser “simplista” considerar que elas prejudicam os países pobres só porque são formadas pelos países ricos.
? Devemos fazer um exercício de imaginar como seria o mundo se não houvesse essas entidades no passado e também como seria o futuro sem elas ? afirmou.
Ela acredita que os países em desenvolvimento têm mais a perder do que os desenvolvidos caso o FMI, por exemplo, venha a desaparecer. Por outro lado, reconhece que a representatividade dos países dentro dessas organizações não é igualitária. Com base nessa constatação, sugere que os países do hemisfério Sul não busquem a extinção das entidades econômicas mundiais, mas que briguem por mudanças dentro delas.
? Os novos players asiáticos aumentaram seu nível de influência no globo e não ocorreu o mesmo em sua participação nas instituições mundiais ? analisou.
O desenvolvimento econômico mundial também tem uma faceta perversa nas relações Norte-Sul, pois, segundo ela, a prosperidade dos países em desenvolvimento está gerando um endurecimento nos acordos com os países desenvolvidos.
? Está cada vez mais difícil que os Estados Unidos e a União Européia desistam de seus subsídios agrícolas, pois eles estão vendo que os países em desenvolvimento estão indo bem ? exemplificou.
Quanto à governança internacional, Helen lembra que nunca houve tantas ONGs, instituições e corporações privadas transnacionais como hoje. Cada país do mundo, diz ela, pertence a pelo menos uma instituição internacional. Essas entidades formam redes mundiais e representam novos laços entre as nações.
As nações em desenvolvimento levariam vantagem com a interdependência imposta em várias áreas das atividades humanas pela globalização. Como exemplo, ela cita o caso da gripe asiática, que a China tentou resolver internamente, mas acabou atingindo o Canadá e depois os Estados Unidos. Além da área da saúde, o setor da segurança e o campo do meio ambiente seriam outros pontos de interdependência mundial.
? Os Estados Unidos não conseguem despoluir sozinhos o seu meio ambiente. A Califórnia recebe hoje poluição do ar que vem da China atravessando o Pacífico. Se isso acontece com o país mais poderoso do mundo, pode acontecer com qualquer outro ? disse.
Antes de se tornar professora de política internacional em Princeton, em 2004, Helen lecionou na Universidade Colúmbia por 18 anos. Em 1986, ganhou o prêmio Sumner, da Universidade de Harvard, por tese sobre direito internacional e paz. É autora de nove livros sobre globalização e desenvolvimento.