O escoamento dessa produção é um dos principais gargalos da agropecuária em Mato Grosso. As longas distâncias até os portos e as péssimas condições de algumas estradas são os principais motivos. Para mudar este cenário, é preciso investir em alternativas de transporte, como o modal ferroviário. Atualmente, apenas o extremo sudeste do Estado é cortado por trilhos. Eles ligam os municípios de Alto Araguaia e Alto Taquari ao Porto de Santos, que na última safra foi o destino de mais de cinco milhões toneladas do grão que saíram do Estado.
? Em média, nós carregamos os vagões com 75 toneladas, o que é correspondente à carga de dois caminhões, em média. A intenção é que saiam daqui entre seis e sete composições por dia, o que dá uma média diária de 85 vagões ? explica Edmar Fernandes Porto, coordenador de terminais da ALL.
Para os agricultores, a possibilidade de escolher a melhor maneira de escoar os grãos é uma vantagem. É o que afirma o produtor rural Artêmio Luiz Batistela, que planta mil hectares de soja em Alto Garças, a 60 quilômetros do terminal ferroviário de Alto Araguaia. Como também tem lavouras no município goiano de Balisa, onde não há ferrovia, ele compara as despesas com escoamento e conclui:
? Lá, o frete encarece muito. Eu tenho que levar a soja para Jataí, todo o transporte por caminhão. Lá, o custo é caro. Aqui, não. Fica baratinho ? afirma o produtor.
A ampliação dos caminhos percorridos por trilhos é defendida por praticamente dez entre dez agricultores de Mato Grosso. Além de economia, investir na malha ferroviária também significa apostar no desenvolvimento.
O projeto
A Ferrovia de Integração Centro-Oeste terá 1,638 mil quilômetros de extensão. Ligará a cidade de Campinorte, em Goiás, até o município de Vilhena, em Rondônia, cortando Mato Grosso de leste a oeste. O projeto está orçado em R$ 6,4 bilhões e será executado com recursos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Quando estiver pronto, deverá ser responsável pelo escoamento de até 12 milhões de toneladas de cargas por ano.
? Vai ser um diferencial muito grande quando este momento chegar. E ele chegará, eu tenho certeza, dentro de no máximo oito anos. O Estado de Mato Grosso terá uma outra história no agronegócio ? afirmou Nelson Pícolli, diretor da Famato.
A primeira etapa da obra, até Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, terá 1,04 mil quilômetros. A previsão inicial era de que este trecho fosse entregue até o fim de 2012. Mas como o licenciamento ambiental ainda não foi totalmente aprovado, o cronograma vai atrasar. Deve ser concluído até 2014. Nada que desanime as lideranças do setor, que já calculam as vantagens que a ferrovia trará para a região. O secretário de Agricultura do município, Edu Laudi Pascoski, diz não temer que o projeto não saia do papel, e afirma que até os produtores que estiverem em um raio de 300 quilômetros do futuro terminal serão beneficiados.
? A expectativa é de um grande desenvolvimento de toda a cidade, que deverá se tornar um grande pólo no Estado. A região poderá ser responsável, seguramente, por 30% da produção nacional de grãos, já que a economia com transporte poderá ser revertida em investimentos na atividade, como tecnologia, por exemplo ? afirmou o secretário.
O agricultor Néri Geller planta 1,2 mil hectares de soja na região e também acredita que a obra trará grande economia no frete, que hoje representa até 40% dos custos dos produtores. Ele espera que a ferrovia seja implantada até 2014 e garante: o setor cobrará a conclusão do projeto.
? Nós temos esperança de que o governo comece a obra ainda este ano, conforme foi anunciado e conforme divulgou na mídia. Assim, a obra seria concluída em 2014. É o que nós acreditamos, mas não pode ficar só no papel. Isso tem que ir pra prática ? reivindicou o produtor.
Licença
O início da implantação da “Ferrovia da Soja” depende do licenciamento ambiental. De acordo com o Ibama, a licença prévia está em fase final de avaliação. Depois de aprovada, ainda será necessário emitir a licença de instalação, que estará condicionada ao projeto básico ambiental e ao plano de controle ambiental que forem apresentados pela Valec, estatal responsável pela ferrovia. Não há prazo definido para análise destes documentos.