Foram anunciadas 230 dispensas na unidade de Horizontina da John Deere, perto de Santa Rosa, no Noroeste do Estado ? 13% dos 1,8 mil funcionários. Na Agco, informa o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, ocorreram 83 demissões desde janeiro. Mesmo número havia sido registrado só em dezembro de 2010.
Embora a Agco não se pronuncie sobre os cortes, Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos para a América do Sul da John Deere, confirma que a redução do mercado nesta época do ano, quando termina a safra e cai a procura por máquinas ? foi agravada pelas barreiras da Argentina.
? Estamos analisando a possibilidade de investir lá (na Argentina). Não temos visto ação do governo brasileiro para proteger a indústria nacional. Não sabemos o que esperar do futuro das relações comerciais com a Argentina ? lamentou o executivo.
Até agora, a John Deere só mantinha no país uma fábrica de motores, implantada há mais de 50 anos. Conforme o diretor, a incerteza nas relações com o vizinho fizeram com que a indústria controlasse a produção no último ano. Sob a alegação de proteger a indústria local, os argentinos exigem que o valor importado em certos segmentos seja compensado por exportação equivalente. Como a indústria de máquinas agrícolas brasileira é muito maior ? de 80% a 85% do mercado argentino ?, a compensação é difícil.
Planalto estaria disposto a endurecer com vizinhos
Há um impacto direto do protecionismo do governo argentino nas fábricas brasileiras, avalia o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier.
? As demissões no setor ocorridas nos últimos meses são reflexo dessa política protecionista argentina. Precisamos da intervenção do governo federal ? reclama o empresário.
Interlocutores do governo relatam a impressão de que, caso se confirme a ameaça da Argentina ao setor nacional de máquinas agrícolas, haveria disposição na Esplanada dos Ministérios de endurecer o jogo com os vizinhos. Empresários duvidam da intenção porque o Brasil ? apesar dos sucessivos problemas ? ainda lucra no comércio com o país, enquanto o Rio Grande do Sul perde.
Somente no primeiro trimestre, o saldo para o Brasil foi positivo em US$ 1 bilhão. O Rio Grande do Sul, no entanto, registrou resultado negativo de quase US$ 484 milhões