Rivaldo Gonçalves é produtor de leite em São Sebastião, cidade localizada a 26 quilômetros de Brasília (DF). Em uma propriedade de 19 hectares ele possui 13 matrizes, e conta que em três anos viu a renda diminuir. Dos três insumos que mais compra, o produtor calcula um aumento de 60% na variação dos custos.
A casca de soja subiu de R$ 9,50 em julho de 2007 para R$ 16 neste mês. O preço da ração passou de R$ 21,90 para R$ 29,40. Em um ano o custo do sal pulou de R$ 31,90 para R$ 59,80.
A variação do preço pago pelo leite também não acompanhou o aumento nos gastos. O litro do produto que era vendido à cooperativa em julho do ano passado por R$ 0,60 hoje é comercializado por R$ 0,72, um aumento de apenas R$ 0,12 centavos, cerca de 20%.
Apesar de sua família ter assistência técnica da Emater e acesso ao crédito de investimento do Pronaf, o produtor Rivaldo Gonçalves calcula que este ano vai investir 20% a menos na modernização da produção.
? Eu pretendia modernizar o curral este ano, mas terei que esperar o próximo ? diz ele.
Enquanto isso, o produtor de leite conta com a ajuda da experiência para administrar as despesas.
? Eu diminuí a ração concentrada e aumentei a casquinha de soja na produção até melhorar a qualidade do meu leite. A gente apanha no dia-a-dia e procura a reduzir os custos fazendo experiências ? revela.
A expectativa de Rivaldo é parecida com a de cerca de quatro milhões de agricultores familiares brasileiros. Todos estão sofrendo as conseqüências da crise mundial de alimentos. A renda não acompanhou a alta dos fertilizantes e a especulação das commodities no mercado financeiro.
O professor de Gestão de Agronegócio da Universidade de Brasília Moisés Balestro explica que para amenizar os efeitos é preciso aumentar o crédito para financiamento, medida anunciada pelo governo na semana passada no Plano Safra Mais Alimentos, que prevê R$ 13 bilhões para agricultura familiar. Mas Balestro acha que ainda é preciso uma intervenção política do governo no mercado.
? Principalmente em relação àquilo que provoca uma distorção de preço, a especulação financeira dos fundos de commodities e a questão dos oligopólios praticadas pelos fornecedores de insumos ? conclui.