Diversos

Lagarta-do-cartucho: biodefensivo desenvolvido em parceria com Embrapa promete 100% de controle

Produto pode ser aplicado em lavouras de milho, soja, sorgo e algodão, além de pastagens e hortaliças; de acordo com o órgão, o biológico é inofensivo a outros insetos (inimigos naturais), plantas e seres humanos

lagarta-do-cartucho
Biodefensivo tem na composição vírus que infecta a lagarta, sem trazer riscos à saúde humana ou ao meio-ambiente, informa a Embrapa. Foto: Ivan Cruz/Embrapa

A Embrapa e a empresa suíça Andermatt Biocontrol desenvolveram um produto biológico que seria capaz de provocar a morte de 100% da população da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Batizado com o nome comercial de Spodovir, o biodefensivo tem em sua composição um vírus que infecta a praga sem trazer riscos à saúde humana ou ao meio-ambiente. De acordo com a Embrapa, isso é possível porque a base do produto é um baculovírus, tipo de vírus específico que causa a morte somente de insetos e não causa danos em microrganismos, plantas, mamíferos e vertebrados.

O Spodovir será o primeiro lançamento global de um produto biológico com tecnologia Embrapa, pois foi desenvolvido em parceria com uma empresa privada com rede de atuação em diversos países. O produto foi registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da lagarta-do-cartucho, principal praga do milho, capaz de reduzir a produção da cultura em mais de 50%. Além disso, pode ser usado em outros cultivos, como soja, sorgo, algodão, arroz, pastagens e hortaliças.

“A grande vantagem desse produto biológico, também chamado de biodefensivo, é que ele não afeta o meio ambiente, não intoxica aplicadores, não mata os inimigos naturais das pragas (insetos benéficos), não polui rios e nascentes e não deixa resíduos nos alimentos a serem vendidos nos supermercados, contribuindo para uma melhor sustentabilidade e melhor qualidade do produto disponibilizado para os consumidores”, afirma o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Fernando Hercos Valicente, desenvolvedor e responsável pela tecnologia na Empresa.

Segundo a Embrapa, os biodefensivos à base de baculovírus têm melhor ação quando as lagartas são pequenas, desde recém-nascidas até, no máximo, o tamanho de um centímetro de comprimento, no caso da lagarta-do-cartucho. “O posicionamento do Spodovir no campo é essencial para causar a mortalidade desejada e é dependente da região e do início de ataque da praga”, pondera o cientista, frisando que a eficácia de 100% do produto, obtida em experimentos, foi também resultado da aplicação correta dele.

Valicente afirma que o Spodovir deve ser ingerido pelos insetos para fazer efeito. “Dessa forma, a pulverização deve respeitar esse fator (ingestão por parte do inseto) e a operação precisa ser bem-feita. Os baculovírus não possuem ação de contato. Podem ser feitas aplicações a UBV (ultrabaixo volume) desde que com os equipamentos adequados. Serão iniciados testes para a pulverização com drones em soja e algodão”, anuncia o pesquisador.

A recomendação é que o produto seja aplicado, quando possível, após as 16h, período com menor incidência de raios ultravioletas (UV), que desativam as partículas virais no campo. Outro motivo é que a lagarta-do-cartucho possui hábito noturno, iniciando sua alimentação no início da noite.

“Se a pulverização for feita no fim da tarde, não haverá desativação das partículas virais (não há radiação UV) e haverá o consumo do baculovírus que foi pulverizado sobre a plantação, por meio da raspagem das folhas pelas lagartas, causando a morte desses insetos”, conta o pesquisador, ressaltando que a aplicação deve ser ajustada com a necessidade e o tamanho da cultura e de acordo com a logística da propriedade.

Custo por hectare: menos 50% do valor da saca de soja

O Spodovir é resultado de uma parceria firmada em 2015 entre a Embrapa e o Grupo Andermatt. “Após diversos testes realizados nos nossos laboratórios, verificamos que o produto apresentava uma eficácia excelente, o que impulsionou a empresa a fechar a parceria com a Embrapa”, afirma o CEO da Andermatt Biocontrol Brasil, Markus Ritter.

A engenheira-agrônoma Viviane Dutra, responsável pela gerência da Andermatt Brasil, afirma que o custo de uma aplicação do produto por hectare seria de aproximadamente 0,75 saca de milho (considerando, por exemplo, o preço da saca do cereal no último dia 10 de junho a R$ 96,57, o produtor de milho gastaria R$ 72,42 por hectare) e de 0,45 saca de soja (com preço de R$ 167,62; dados do mesmo dia. Dessa forma, o sojicultor gastaria R$ 75,42 por hectare para aplicar o Spodovir).

Foto: Fernando Valicente/Embrapa

Sobre a formulação do produto biológico, Dutra relata que ele apresenta alta solubilidade, não forma sedimentos e é de fácil mistura. “Em todos os testes realizados, o Spodovir obteve performance igual ou superior aos produtos já utilizados para o controle da lagarta. Acreditamos que teremos uma excelente aceitação dos agricultores, uma vez que ele tem alta eficácia, e o agricultor brasileiro já está habituado ao uso de produtos biológicos”, aposta a gerente.

Para ela, a experiência do Grupo Andermatt na produção de microbiológicos, juntamente com o conhecimento da Embrapa, será uma aposta de sucesso. “Podemos atender às necessidades dos produtores rurais de forma sustentável, sem causar impacto ao meio ambiente, aos trabalhadores e aos consumidores”, afirma Dutra, ressaltando que o Spodovir pode compor ações de manejo integrado de pragas (MIP), com vantagens sobre os inseticidas químicos.

Markus Ritter afirma que a expectativa da empresa é que a comercialização já atenda à demanda dos produtores para os primeiros plantios da safra de milho.

“Nosso objetivo é levar soluções aos diversos perfis de produtores, independentemente do tamanho de sua propriedade ou da escolha no manejo da sua lavoura. Estamos prontos para atender todos os públicos, desde pequenos agricultores familiares até os grandes grupos empresariais”, informa o executivo.