Para quem conheceu a cidade antes da enchente, é assustador ver de perto esta situação de agora. Aos poucos, as pessoas vão tentando recuperar o que perderam, mas há o que talvez seja impossível de ser recuperado.
O historiador Marcelo Toledo mora no município e sempre defendeu a preservação do patrimônio de sua terra natal. Agora, ele está empenhado em recuperar o que for possível.
? É lamentável ver isto como historiador, como pesquisador e como cidadão também. Ver símbolos de uma cidade sendo destruídos é muito doloroso mesmo ? diz Toledo.
Muitos outros municípios do Estado de São Paulo, assim como São Luiz do Paraitinga, se desenvolveram a partir da produção de café, em meados do século XIX. Os casarões foram construídos nesta época – entre 1840 e 1870. Eram construções com influência da arquitetura portuguesa e que serviram de residência para os barões do café. Outras cidades do Vale do Paraíba também têm casarões como estes, mas certamente nenhuma reúne um conjunto tão completo como este. Por isso, para a história, a perda no local é tão significativa.
Todos os 90 casarões do chamado Centro Histórico 1, o principal da cidade, foram danificados pela enchente, e 24 caíram.
? Técnicos e pesquisadores do Iphan e do Codefat estão aqui também, vendo a possibilidade de estar reconstruindo em parte com material original, para que não seja fachada também, uma coisa meio resignificada. Mas isso vai ser discutido ? explica o historiador.
Há uma perda para a economia também. O centro histórico era um atrativo turístico. Outra fonte econômica do município vem do campo. Além do plantio de eucaliptos, boa parte dos moradores da zona rural vive da produção de leite. São Luiz do Paraitinga fica em uma das principais bacias leiteiras do Brasil, a do Vale do Paraíba.
O produtor rural Nicolau Pereira mora há pouco mais de dois quilômetros do centro. Durante uma semana, ele não pôde vender o leite porque a água atingiu todo o curral.
Por isso, lamenta pelo que perdeu na área rural e pelo que, de certa fora, perdeu também na cidade.
? Ah, desgosta ver um negócio daquele todo destruído ? comenta o produtor.
? Dá até para mensurar o prejuízo econômico, mas o prejuízo sentimental, do sentimento da população, esse é muito difícil ? conclui o historiador Marcelo Toledo.