— A água tem que ser ponto estratégico em nossos debates. A responsabilidade tem que ser de todos. O governador Tarso Genro vai anunciar nos próximos dias um programa novo, para facilitar o licenciamento ambiental e estimular a contratação de empréstimos. Assim teremos garantia de produção, com água na hora que a planta precisa — aponta.
Já o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Caio Tibério da Rocha, defende que planejamento e organização governamentais são o ponto-chave para o desenvolvimento da cultura do milho no país.
– O problema não tem sido de pesquisa, tecnologia, nem potencial de produtividade. E estamos trabalhando para enfrentar as dificuldades. Prorrogamos o custeio para quem perdeu mais de 30%, 70% da lavoura com a estiagem. O Ministério da Agricultura conseguiu reverter a negociação com os bancos, para que o produtor pudesse utilizar a sobra de perdas para vender ou utilizar como alimentação animal. Estamos estudando uma forma diferenciada de seguro agrícola para que o agricultor possa obter cobertura, caso não atinja a produção. Teremos leilão de milho no dia 15 de março, com a saca de 60 quilos a R$ 21,00 no balcão. O Ministério apoiará o programa de irrigação, buscando a autossuficiência do milho no Rio Grande do Sul. Queremos que ele possa ficar no contexto de sustentabilidade do Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), com 12 anos para pagar. E estamos antecipando a publicação de políticas agrícolas para o plantio de inverno. Será no final de março ou começo de abril. É nossa responsabilidade resolver isso – pontua.
Para o presidente da União Brasileira de Agricultura (Ubabef), Francisco Turra, deve haver equilíbrio entre o preço do milho e da soja e os custos de produção, para que o Brasil possa “valorizar sua vocação de produtor de alimentos”. Ele chama a atenção para o risco de falta de abastecimento do grão para ração animal.
– É hora de fazer uma reflexão. Se não reagirmos com programas para trazer milho à região Sul na hora mais aguda de estiagem, será impossível sustentar a produção. Só falamos de seca depois que ela acontece, depois esquecemos. Se não houver Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) na hora certa, será complicado. A produção brasileira de frango cresceu e nós precisamos de milho. E ração mais barata gera vantagem competitiva ao setor avícola. Peço que o Brasil fique atento para não perder todo o trabalho que já fizemos para conquistar mercado. Não podemos perder espaço na agricultura e na pecuária. Temos que fazer nossa parte – salienta.
A preocupação com o abastecimento de grãos para ração é compartilhada pelo presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes. Ele alerta que a produtividade do milho aumentou menos do que a demanda, que cresce em nível mundial. E diz temer a concorrência internacional.
– O Brasil é quarto maior produtor e exportador de carne suína do mundo e há poucos mecanismos de proteção de preços para o milho e nenhum para o suíno vivo no país. O custo de produção do animal nos Estados Unidos já está mais baixo do que o nosso. Então, podemos perder até essa vantagem. Fora que, se falarmos em infraestrutura e tecnologia, os países desenvolvidos nos dão uma lavada – argumenta.
Ele defende a criação de linhas de crédito específicas para compra do cereal no Plano Agrícola Pecuário e mecanismos modernos de comercialização. Aponta ainda a necessidade de alternativas para a alimentação animal.
– Precisamos de segurança para produzir mais carne. Temos que estudar diferentes substitutos ao milho para a ração, como sorgo e trigo. E ver o que é possível fazer para barrar a burocracia na regulamentação de milho transgênico, porque precisamos de grãos de alta produtividade – diz.
O avanço tecnológico para o aumento da produtividade foi o principal ponto defendido pelo presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Narciso Barison. De acordo com ele, para haver desenvolvimento econômico considerável, é necessário oferecer condições para que a semente possa expressar seu potencial produtivo.
– A agricultura de precisão é uma das soluções que compõem o processo. A pretensão das empresas que desenvolvem genética é triplicar o número de sacas colhidas por hectare em 2020. Na safra 2011/2012 foram colocadas à disposição dos agricultores 489 cultivares de milho, para que tivessemos variedades adaptáveis aos mais diferentes climas e solos. Destas, 176 eram transgênicas. Em três anos, as sementes geneticamente modificadas ocuparam mais de 60% da área cultivada no país. É a resposta do sucesso dessa tecnologia. A semente de milho hoje é um pequeno chip, com resistência a insetos, e logo teremos tolerância à seca – estima.
O debate contou ainda com a participação de Eduardo Copetti, engenheiro agrônomo da Semeato Implementos Agrícolas, que apresentou opções de tecnologias e máquinas desenvolvidas pela empresa para otimizar o trabalho campo.
– O plantio é a operação que define o potencial de cada cultura e o que vai ser colhido. Temos tecnologia disponível para aumentar a produtividade – afirma.