Nos últimos anos, vinhos produzidos em Minas Gerais e em outras regiões brasileiras sem tradição vinícola têm conquistado reconhecimento nacional e internacional.
Este fenômeno é resultado de uma técnica chamada dupla poda da videira, validada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) ao longo das últimas duas décadas. Essa metodologia permite que uvas de alta qualidade sejam colhidas durante os meses de inverno, quando o clima é mais seco e ameno, favorecendo a maturação ideal dos frutos.
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“Para produzirmos vinhos de inverno, precisamos de uvas com uma boa maturação tecnológica. Para que isso ocorra, é necessário que o clima seja favorável. Realizamos a dupla poda para que estas uvas atinjam a plena maturação durante o inverno seco, com dias ensolarados e noites frias, condições ideais para síntese de açúcares e compostos fenólicos”, explica o enólogo da Epamig, Filipe Casselli.
A técnica se espalhou por diversas regiões de Minas Gerais, além de outros estados do Sudeste, do Centro-Oeste do Brasil e áreas como a Chapada Diamantina.
Os primeiros vinhos produzidos com essa técnica chegaram ao mercado no início da última década e rapidamente ganharam espaço no cenário gastronômico, bem como prêmios nacionais e internacionais.
“As premiações nacionais começaram em 2016 e as internacionais em 2017. O primeiro vinho de colheita de inverno premiado foi o Chardonnay, da Vinícola Casa Verrone de Itobi-SP, na Expovinis 2016. Em 2017, a Casa Verrone recebeu a premiação com o vinho Syrah, eleito o melhor tinto brasileiro. Também em 2017, a Vinícola Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal-SP, ganhou medalha de ouro com o vinho Syrah e prata com o vinho Viognier e o mineiro Maria Maria Sauvignon Blanc conquistou bronze no Decanter, o maior concurso internacional de vinhos”, relembra Casselli.
Recentemente, em 2024, vários vinhos mineiros foram agraciados com medalhas de prata e bronze no Decanter: Barbara Eliodora Syrah (2023) da Vinícola Barbara Eliodora de São Gonçalo Sapucaí; Syrah (2021), Cabernet Franc (2021) e Viognier (não safrado) da Vinícola Casa Geraldo de Andradas; Sabina Syrah (2023) da Vinícola Sacramento (Sacramento); Sublime (2021) e Soberbo (2021) da Quinta do Canário, em Passos.
Ao longo dos anos, a Epamig tem sido fundamental na elaboração de vinhos premiados, oferecendo serviços de vinificação para produtores que estão iniciando na atividade.
Atualmente, 19 produtores estão incubados na vinícola da Epamig, onde cada produtor passa por uma triagem rigorosa para garantir a qualidade do produto final.
“Os quesitos obrigatórios são somente uvas de produção própria e um volume mínimo de 500 quilos de uva, com prioridade para produtores que estejam testando novas variedades e regiões, e dispostos a abrir espaços para uma parceria de pesquisa em sua área”, revela Casselli.
As pesquisas iniciais indicaram que as uvas Syrah e Sauvignon Blanc se adaptavam melhor à técnica da dupla poda. Contudo, atualmente, outras variedades também têm mostrado potencial, como as tintas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo, Malbec e Marselan, e as brancas Viognier, Marsanne e Chardonnay. A pesquisadora da Epamig, Cláudia Souza, destaca que variedades como Cabernet e Merlot apresentaram melhor desempenho com a técnica através da enxertia sobre porta-enxertos mais vigorosos.
A Epamig continua a explorar novas fronteiras na vitivinicultura, com várias linhas de pesquisa focadas na expansão, inovação e melhoria da qualidade dos vinhos produzidos. Projetos incluem a avaliação de cultivares e porta-enxertos sob dupla poda, o uso de madeiras brasileiras no envelhecimento dos vinhos e a introdução de tecnologias enológicas que impactam o perfil químico e aromático dos vinhos finos.