Longe de se aproximarem, o Executivo e os líderes das entidades agrárias endureceram suas críticas e se reafirmaram em suas posições, às vésperas do debate no Senado do polêmico decreto de elevação dos impostos à exportação de grãos que foi o estopim da crise.
Os partidários do governo lotaram a praça do Congresso para ouvir discurso do ex-presidente Néstor Kirchner, líder do Partido Justicialista (peronista) e, segundo analistas locais, a pessoa que concentra o poder na Argentina.
Perante mais de 300 mil pessoas, segundo os organizadores, número que foi reduzido a umas 95 mil por fontes extra-oficiais citadas pela imprensa local, Kichner novamente atacou os produtores agrários, acusados por ele de apoiar a ditadura militar e tentar desestabilizar sua esposa, a presidente Cristina Fernández de Kichner.
? Quiseram destituir o governo e desestabilizar a pátria ? defendeu o ex-governante, que reiterou que o governo acatará a decisão do Parlamento, “seja qual for”, sobre o polêmico projeto tributário.
Dirigentes sindicais, governadores, ministros e altos funcionários do governo receberam Kirchner durante seu discurso, seu último trunfo antes do debate do decreto.
Pouco depois, e a apenas alguns quilômetros ao norte do Congresso, cerca de 225 mil pessoas, segundo fontes extra-oficiais, se concentraram no bairro de Palermo para expressar sua rejeição à política dos Kirchner e acompanhar os produtores agropecuários.
Um a um, os principais líderes das organizações agrárias, acompanhados de dirigentes da oposição e de reconhecidos peronistas críticos ao Governo, denunciaram a estratégia do Executivo, rejeitaram as acusações de Kirchner e pediram aos senadores que votassem contra a reforma tributária.
? É tão frágil uma presidente para que uma resolução volte? ? questionou o titular da Federação Agrária da província de Entre Ríos, Alfredo de Angeli, transformado em um símbolo do chamado “setor duro” do protesto rural.
Ele disse que “o ex-presidente quer conduzir o barco da sala de máquinas e vai a bater o barco que é o país”.
? Não viemos aqui para pressionar ninguém. Não queremos condicionar a vontade de nenhum legislador. Simplesmente solicitamos aos senadores que votem com consciência. Um conflito desta magnitude não pode ser desmanchado pelas estreitas fidelidades partidárias ? disse o presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens.
O presidente das Confederações Rurais Argentinas, Mario Llambías, apontou que “há senadores que vão jogar pelo país, outros que estão duvidando, e que por um mal chamado de disciplina partidária jogam contra os interesses do povo, mas o pior é que há legisladores que estão sendo pressionados pelo governo para que mudem seu voto”.
? Aos que estão indecisos, lhes digo que aqui está o povo apoiando vocês e pedindo-lhes que votem por nós ? disse Angeli.
Os dois lados concordaram que a luta rural não será concluída nesta quarta-feira, dia 16, independentemente do resultado da votação no Senado, e reivindicaram um plano agropecuário nacional.
? Isto vai continuar. Se ganharmos ou perdermos amanhã [quarta], esta medida [das retenções] não poderá continuar ? concluiu o presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi.
O conflito do campo se transformou na mais grave crise enfrentada por Cristina Fernández em seus seis meses de mandato. As greves comerciais agrárias e os bloqueios de estradas convocados pelas patronais agropecuárias durante os 126 dias de conflito presumiram perdas milionárias para o país, pioraram a divisão interna e precipitaram uma queda em da imagem da presidente.