A novidade foi desenvolvida por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O termo “água cinza” é usado para se referir à água residual de diferentes processos, desde a que foi utilizada no banho até a da produção industrial. Na agricultura, é um dos componentes da pegada hídrica, a soma de todo o consumo de água envolvido na produção, incluindo a verde, vinda da chuva e contida no solo, a azul (da irrigação) e a cinza, que assimila a carga de pesticidas e fertilizantes.
O artigo A mathematical model to estimate the volume of grey water of pesticide mixtures, de Lourival Paraíba, Ricardo Pazianotto, Alfredo Luiz, Aline Maia e Claudio Jonsson, da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), apresenta cálculos com valores de concentrações letais de diversos agrotóxicos em organismos indicadores da qualidade hídrica, como algas, peixes e microcrustáceos, chegando aos volumes de água necessários para diluir a carga dos pesticidas e minimizar os riscos para a vida aquática e o homem.
O desenvolvimento do modelo contou com apoio da Fapesp na pesquisa “Alterações Bioquímicas, Hematológicas e Acúmulo em Tilápia pela Exposição a Misturas de Herbicidas da Cultura Canavieira”, fornecendo subsídios teóricos para a estimativa da água cinza de herbicidas usados em cultivos de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e álcool. Para os pesquisadores, a contaminação das fontes de água doce naturais está resultando em um passivo ambiental elevado, que põe em perigo os ecossistemas terrestres. Além disso, o crescimento da produção agrícola por conta da expansão da produção global de recursos de energia biológica evidencia o risco de escassez de água.
– Em qualquer sistema agrícola sustentável, para a manutenção da vida em todas as suas dimensões, é necessário manter a qualidade de água doce – disse Paraíba.
O modelo da Embrapa calcula os valores adequados para diluição de agrotóxicos sem prejuízo à água. Tradicionalmente, para fazer esses cálculos é necessário conhecer a carga de pesticidas usada no cultivo e os limites máximos de resíduos na água. Mas nos cultivos agrícolas brasileiros são utilizados vários pesticidas, cujos limites permitidos em água não estão definidos. Além disso, o procedimento clássico não considera em seus cálculos o efeito dessa água residual em organismos aquáticos.
O modelo matemático desenvolvido pelos pesquisadores da Embrapa estima o volume de água cinza que deveria ser necessário para proteger as espécies aquáticas sensíveis e indicadoras da qualidade da água do ambiente, de acordo com critérios estabelecidos pela União Europeia.
Foram consideradas as características físico-químicas de pesticidas, as doses recomendadas e as concentrações que causam efeitos letais em 50% da população de organismos aquáticos indicadores da qualidade da água. Dessa forma, foi proposto um método numérico que estima o volume total de água necessário para diluir concentrações de misturas do conjunto total de pesticidas utilizado em um cultivo agrícola.
Além de estimar o volume de água que seria necessário para diluir, ao mesmo tempo, todos os pesticidas que poderiam ser encontrados, o modelo também inclui um indicador numérico que exprime o volume de água cinza que seria produzido por cada pesticida.
De acordo com Paraíba, esses valores poderiam ser informados nas embalagens dos pesticidas, orientando o produtor sobre quais são os volumes de água cinza decorrentes da utilização do produto.
– Isso possibilitaria a redução desses volumes. Seria como o que faz o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), ao indicar o consumo de energia de uma lâmpada ou de um eletrodoméstico – exemplificou.
Como exemplo do modelo matemático, o artigo publicado na Spanish Journal of Agricultural Research traz uma lista dos 17 principais pesticidas utilizados na cana-de-açúcar e a estimativa do volume de água necessário para diluir no ambiente a mistura deles. A íntegra pode ser lida aqui.
O trabalho dos pesquisadores da Embrapa foi premiado em primeiro lugar no Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia 2012, promovido pela Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia, filiada à Society of Environmental Toxicology and Chemistry.