Ao longo do mês de julho, o mercado futuro da soja elevou patamares. Prova disso foi o contrato com vencimento em novembro, cotado a mais de 14 dólares por bushel.
De acordo com o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, esse comportamento teve como base o clima nos Estados Unidos. O mês passado foi de seca, levando a projeções negativas para o desenvolvimento da safra norte-americana.
Segundo ele, há uma conjuntura de fatores que orienta o que o produtor deve fazer no momento em termos de comercialização.
Relatório do USDA
“Os preços de julho também refletiram o último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que não reduziu a produtividade, mas a área destinada à soja. Assim, houve corte na produção”, destaca.
Roque sinaliza que no próximo relatório do órgão, a ser divulgado na próxima sexta-feira (11), ainda há espaço para novos cortes. “Apesar de o relatório já ter reduzido bastante [a produção], entendemos que ele pode cortar ainda mais, talvez entre um e dois milhões de toneladas”.
Mercado da soja em agosto
O analista lembra que o início de agosto tem sido de clima mais úmido no cinturão agrícola norte-americano, o que traz um quadro mais favorável à oleaginosa. Por conta disso, as cotações na Bolsa de Chicago estão mais enfraquecidas.
“No entanto, o grande ponto é que as lavouras não estão nas condições que deveriam estar para atingir o potencial produtivo de 52 bushels por acre (aproximadamente 3.499 kg por hectare)”.
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Roque afirma que o mercado ainda não está precificando essa tendência negativa para a soja dos Estados Unidos. Entretanto, a partir de segunda-feira (14), pós-relatório USDA, isso pode começar a ocorrer. “Apostaria em um corte de produtividade que pode trazer um certo fôlego para Chicago”.
Preços brasileiros
Como o mês de julho foi positivo para Chicago, o analista da Safras & Mercado lembra que o produtor brasileiro aproveitou para negociar.
“O sojicultor avançou na comercialização em níveis bem maiores do que nos meses anteriores […]. Também estamos vendo prêmios melhores, o que é natural para a época do ano, já que à medida em que os meses vão avançando, há menos soja disponível no mercado brasileiro. Esse é um movimento que também pode ser aproveitado”.
De acordo com Roque, há tendência de firmeza nos preços da soja. “Ainda assim, não dá para esperar que a saca vá subir 30, 40 reais, voltar para os 200 reais nos portos. Isso, provavelmente, não vai acontecer, mas o cenário para a soja disponível no segundo semestre é, de fato, melhor”, aponta.
Assim, para as próximas semanas, o analista acredita que os preços estarão melhores no Brasil.
Safra 23/24
Para a nova safra, à medida que a safra norte-americana for avançando, o mercado climático sul-americano vai entrando em cena.
“Lembrando que este ano é de El Niño, se configurando de forma bastante clássica, ou seja, com chuvas acima da média na Argentina, no sul do Brasil, mas abaixo da média no Norte e Nordeste”.
Assim, como a maior parte da safra de soja está no Sul, Centro-Oeste e Sudeste, Roque afirma que a consultoria trabalha com a perspectiva de safra cheia no Brasil, novamente recorde.
“O que deve pesar para a safra 23/24 é a recuperação da safra argentina. Houve uma quebra muito grande por lá na última temporada, entre 25 e 30 milhões de toneladas, mas para esse próximo ciclo, dificilmente não haverá uma produção acima de 40, 45 milhões de toneladas”.
Desta forma, somando as safras dos três maiores produtores do mundo, haverá grande volume de soja disponível em 2024.
“Se isso se confirmar, Chicago refletirá negativamente. É importante o produtor ligar um alerta quanto à safra nova, aproveitar os momentos, visto que um relatório altista do USDA [na sexta] pode fazer Chicago subir um pouco mais”, conta.
Com esses fatores, aliados a um momento de câmbio mais firme e de prêmios não tão pressionados, Roque destaca que o produtor deve aproveitar para começar a fazer contratos de safra nova. “Apesar das indefinições, o momento é de oportunidades”, finaliza.