– Não se deve fazer aplicações preventivas nem utilizar inseticidas abusivamente, isso não é bom para o manejo de maneira geral. A aplicação de produtos sem haver qualquer inseto na área, e sem saber a quantidade de insetos que se tem, isso a gente precisa evitar. Além de gastar desnecessariamente, quanto mais inseticida você usar, mais intensa é a seleção de insetos resistentes.
O evento, transmitido ao vivo pelo Canal Rural, foi aberto pelo superintendente de produção agropecuária da Cotrijal, Gelson Melo de Lima, que destacou a importância do acesso ao conhecimento técnico para auxiliar o produtor na tomada de decisão relacionada ao manejo e controle da praga.
Manejo Integrado de Pragas como estratégia
Adeney Bueno, da Embrapa Soja, ressalta que o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a melhor estratégia para o combate à helicoverpa, porque preserva os inimigos naturais da lagarta.
– Cerca de 90% das lagartas morrem por causa dos inimigos naturais. Apesar de essa praga ser nova no país, a gente tem inúmeros insetos benéficos que estão atacando a lagarta, e esses insetos devem ser preservados, através do uso do manejo integrado de pragas.
Outra medida fundamental para descobrir se é necessário aplicar inseticida, segundo Bueno, é a prática da amostragem. O uso do pano de batida (de 1m x 1,40m ou 1,50m), de pano ou plástico, é considerado o melhor instrumento para fazer amostragem.
– Às vezes, a gente se preocupa em usar o melhor inseticida. A base do manejo é a amostragem e a tomada de decisão apenas quando necessário. Não dá pra escolher um inseticida sem ter a identificação da praga e não dá pra usar inseticida sem amostragem. Infelizmente, essa prática caiu em desuso. No Paraná, 70% das lavouras não utilizam critérios técnicos para fazer a tomada de decisão.
De acordo com o pesquisador, a Embrapa recomenda que os produtores, além da amostragem, realizem a vistoria da área antes do plantio.
– É importante que se faça a vistoria da área, da vegetação de cobertura, e se avalie a presença de pragas. A helicoverpa tem um grande número de hospedeiros, que podem abrigar a lagarta antes do plantio.
Outra recomendação é fazer a dessecação antecipada, ou seja, eliminar a vegetação de cobertura por pelo menos 15 dias, sem o uso de inseticidas, para evitar que lagartas grandes ataquem plantas pequenas.
Ocorrências no Rio Grande do Sul
O engenheiro agrônomo e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), José Roberto Salvadori, apresentou um panorama das ocorrências de helicoverpa no Rio Grande do Sul.
– Vivemos um momento de muita preocupação e muitas dúvidas. Mas todo problema significa uma oportunidade para a pesquisa. Pesquisadores do Rio Grande do Sul tentaram identificar as espécies, mas nós não temos necessidade de preocupação científica. Seja helicoverpa, seja heliothis, o manejo é o mesmo.
A confirmação da primeira ocorrência de Helicoverpa armigera no Estado foi em 19 de novembro deste ano. No entanto, de acordo com Salvadori, a presença da espécie em lavouras gaúchas foi identificada pela primeira vez em dezembro de 2012 por pesquisadores da Embrapa Trigo, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da UPF.
Com relação ao monitoramento, vem sendo utilizada a técnica da armadilha de ferormônio.
– Já está disponível o ferormônio, uma substância atraente que permite que os insetos se identifiquem pelo odor, que é como as mariposas se identificam para o acasalamento. Utilizamos uma borrachinha impregnada com ferormônio como armadilha para realizar o monitoramento e a quantificação das mariposas.
Eficácia da Intacta não exclui necessidade de monitoramento
O gerente de regulamentação e líder da área de manejo de insetos da Monsanto, Renato Carvalho, explicou a utilização da soja Bt no combate à helicoverpa e alertou para a importância das áreas de refúgio, sem a presença da tecnologia Bt.
– Hoje há baixa implementação de áreas de refúgio. É de fundamental importância o estabelecimento dessas áreas de refúgio, que deve ser estruturado. A distância máxima deve ser de 800 metros. Recomendamos que inseticidas à base de Bt não devem ser aplicados nas áreas de refúgio. É como se você tivesse 100% da lavoura com Bt.
Para o representante da Monsanto, o monitoramento deve ser a palavra chave para o combate à lagarta.
– A grande eficácia da tecnologia não exclui a necessidade de se fazer o monitoramento. Há uma série de outras pragas que a tecnologia vem mostrando eficácia.
Segundo Carvalho, todos os testes realizados no Brasil foram com a Helicoverpa zea, cuja sensibilidade é muito similar à armigera.
Prejuízos da antecipação de aplicação de inseticidas
O gerente de Defesa Vegetal da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, José Candido Motta, enfatizou que a amostragem de pragas deve ser realizada antes de qualquer aplicação preventiva. O diretor da Farsul, Jorge Rodrigues, acrescentou que a entidade está preocupada com o prejuízo que a aplicação antecipada de inseticidas pode causar aos produtores que temem o ataque da helicoverpa.
– Temos formas de controlar essa lagarta. O ponto fundamental é buscarmos assistência técnica, não aquela entusiasmada pela mídia de venda, mas com conhecimento, com profundidade. O controle deve ser imediato, mas não precipitado, com as ferramentas que nós temos – completa.
Até agora, a helicoverpa já foi diagnosticada em 12 Estados brasileiros. Bahia e Mato Grosso do Sul foram os mais prejudicados, mas a lagarta também foi identificada nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Confira a apresentação do pesquisador da Embrapa, exibida no evento, sobre as estratégias de combate à lagarta:
Veja a apresentação do professor da UPF sobre a presença da lagarta nas lavouras do Estado do Rio Grande do Sul:
Inseticidas não previnem ataque da lagarta helicoverpa, alerta pesquisador
Conhecimento é a principal arma de combate à helicoverpa, diz professor da UPF
Intacta dá proteção contra lagartas recém-nascidas, segundo a Monsanto
Produtores temem aumento no custo de produção das lavouras devido à helicoverpa