São exatos 180 dias, 4.320 mil horas longe de tudo, da vida que acostumou a ter, das referências que nas últimas décadas construíram uma história.
? Não estou em casa, minhas coisas estão todas jogadas porque lá não cabe o que é meu. Eu estou em um quarto com um banheiro. Venho cozinhar no barraco e volto ? conta a cozinheira Adélia da Silva Lima.
Adélia morava há mais de 40 anos em uma casa no Córrego Dantas em Nova Friburgo. Uma área com inclinação acima de 45 graus, o que não é permitido pelo Código Florestal Brasileiro. Na noite da tragédia, pagou o preço pelo risco. Ela e a família conseguiram se salvar, já o vizinho, amigo da família, morreu soterrado.
Em um ritual que se repete religiosamente há seis meses, ela volta todo dia ao local. Rotina que não muda em busca de algum objeto soterrado, uma lembrança que acalme a saudade, que aqueça o coração.
? Vou continuar vindo aqui enquanto vida eu tiver. Mesmo que eles derrubem não saio daqui. Isto foi uma coisa minha, um suor meu, eu deixei de comer, de beber um leite, dar um pão pros meus filhos, para comprar este cantinho ? relata.
Todo o trabalho de limpeza realizado por uma retroescavadeira não está sendo feito pelo poder público e sim pago pelos próprios moradores. Além do prejuízo que já tiveram também estão pagando por esse serviço.
? Não é da prefeitura, é particular e nós estamos pagando. A prefeitura limpou umas casas. Tinha que pedir pra juíza autorizar, mas não temos tempo para esperar. E não é barato o serviço aqui, por baixo R$ 100 a hora ? explica a dona de casa Angélica Lima Santos.
? Não tem necessidade de fazer isto. Nós temos mais de 300 máquinas e equipamentos para atender a região ? ressalta o secretário de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo.
O cambuqueiro Rogério dos Santos da Silva mora no bairro Prainha, em Nova Friburgo, em uma área onde 17 pessoas morreram soterradas.
? Perdi uma sobrinha com 13 anos ? conta.
A área localizada numa região agrícola foi abandonada. Antes da tragédia moravam cerca de 100 pessoas, menos de 30 permanecem. Quem ficou pede ajuda e reclama do abandono.
? Está complicado. Está tudo parado, a prefeitura até agora não fez nada ainda. Os moradores têm que pagar máquina para limpar sua casa. Até hoje não foi liberado nada e são poucas pessoas que tão recebendo aluguel social ? relata Rogério.
A especulação imobiliária é outra dificuldade. Os aluguéis ficaram mais caros e com muita gente desempregada, as exigências estão maiores. A dona de casa Jorgina da Silva resume o sentimento em poucas palavras.
? Seis meses depois desta tragédia continua tudo na mesma, não tem solução, ninguém fala nada, está tudo quieto. A área continua interditada, só que tem gente morando ainda. Não tem pra onde ir.
Agricultores não conseguem retomar produção no Rio de Janeiro
Seis meses depois, moradores ainda sofrem com as perdas causadas por desabamentos de terra no RJ