Moradores da região serrana do Rio de Janeiro temem pelo futuro

Habitantes permanecem na área pois argumentam que não receberam o aluguel socialCom dificuldades para retomar a vida normal, moradores das cidades atingidas pelas chuvas na serra fluminense temem pelo futuro. Boa parte dos locais afetados está em Áreas de Preservação Permanente. O Ministério do Meio Ambiente afirma já ter feito um estudo sobre a região. Porém, os moradores atingidos pela tragédia que abalou o Brasil em janeiro se dizem entregues à própria sorte.

A residência do cobrador Leandro Daudt está localizada numa Área de Preservação Permanente, com inclinação acima de 45 graus, proibido porque degrada o ambiente e ameaça a vida de quem se arrisca.

Durante a tragédia, os moradores do bairro Village conviveram com a realidade da pior forma possível. A família do cobrador escapou, o bairro foi interditado, mas sem receber o aluguel social, muitos não tem para onde ir.

? Tínhamos que ter saído, mas foi prometido aluguel social e não foi liberado. Estamos com processo nas Pequenas Causas, porém sem êxito até o momento. Saio para trabalhar e qualquer chuva largo tudo e venho ver a família, venho para salvar minha família. Enquanto a situação não se resolve, espero que venha o verão e conto com a sorte ? desabafa.

Há 20 anos morando no bairro, a aposentada Eva Romão se acostumou a ter uma vista privilegiada. A tranquilidade foi embora depois da tragédia. Sua residência, cheia de rachaduras, faz com que durma todas as noites na casa de uma amiga. Mas não consegue ficar longe por muito tempo. Basta amanhecer o dia e ela volta para casa, onde fica, até o por do sol.

? Apesar do medo, a gente acaba se acostumando. Sei que estou em área de risco, mas espero que minha casa não desabe.

O perigo ronda também a área rural da região serrana, 90% dos lugares atingidos pela tragédia, estão localizados em áreas de preservação permanente.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que o Ministério realizou um estudo sobre o que ocorreu na região, e que é preciso aprender com a tragédia.

? O fenômeno natural varreu as áreas de APPs. As perdas econômicas e de vida foram em APPs. Teremos que trabalhar com conceito de vulnerabilidade de risco para ocupação deste território. O estudo sinaliza que não há como ocupar de maneira desordenada, encostas, APPs, têm que manter as faixas de rios, matas ciliares. Se compararmos as imagens no satélite, veremos que 90% das tragédias por fenômenos naturais acontecem em APPs, inclusive áreas ocupadas pela agricultura. Acredito que o debate vai ajudar a formatar novas abordagens de políticas públicas ? afirma.

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