A engenheira agrônoma e pesquisadora Ana Maria Primavesi, uma das precursoras nos estudos sobre agroecologia e agricultura orgânica no país, faleceu neste domingo, 5. A informação foi confirmada através de um texto de despedida intitulado “Um jatobá que tomba, centenário”, em sua própria página do Facebook.
Ana Maria foi reconhecida por ser uma das pioneiras nos estudos sobre preservação de solo e recuperação de áreas degradadas, priorizando a atividade biológica através do acúmulo de matéria orgânica, evitando o revolvimento do solo, como se fazia anteriormente.
Enquanto lecionava na Universidade Federal de Santa Maria, contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. Após sua aposentadoria não parou de ajudar em pesquisas e ajudou a fundar a Associação da Agricultura Orgânica (AAO). Seu livro “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais”, lançado em 1984 ainda é considerado uma obra de referência nas ciências agrárias.
Vinda ao Brasil
Segundo a geógrafa e professora Virgínia Knabben, que escreveu a biografia “Ana Maria Primavesi – histórias de vida e agroecologia”, a pesquisadora austríaca chegou ao Brasil em meados 1948, com seu marido, o fazendeiro e também doutor Artur Barão Primavesi.
Ambos lecionaram Universidade de Santa Maria (RS) e, após a fundação do Instituto de Solos e Culturas, criaram o primeiro curso de pós graduação no tema “Produtividade e Conservação do Solo”.
Site de Ana Maria Primavesi
Além do livro, Virgínia foi além e criou um site dedicado à Ana Maria Primavesi. O presente foi dado a pesquisadora no dia que completou 99 anos, em 3 de outubro de 2019. A ideia é reunir os textos sobre Ana Maria Primavesi já publicados em sua página no Facebook.
Nesta página do Facebook, aliás, um texto de despedida faz uma homenagem a engenheira agrônoma. Confira abaixo!
Um jatobá que tomba, centenário
Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu hoje, aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência no e do campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se.
Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.
Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer.
Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas.
Como diz nosso querido amigo Fabio Santos, parafraseando Che Guevara:
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a Primavesi inteira.”
Aprosoja lamenta morte
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) também soltou uma nota de pesar pela morte de Ana Maria Primavesi, confira:
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) lamenta profundamente a morte da agrônoma Ana Maria Primavesi, ocorrida neste domingo (05.01), aos 99 anos, por problemas cardíacos.
Ana foi uma das principais precursoras da agroecologia, responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo em geral, em especial o manejo ecológico do solo. Foi também uma das importantes pesquisadoras da agricultura orgânica.
Parte do seu legado pode ser encontrado nos diversos livros que publicou, como “Pergunte ao solo e às raízes”, “Manejo ecológico do solo: A agricultura em regiões tropicais”, “Algumas plantas indicadoras – como reconhecer os problemas dos solos” e “A biocenose do solo na produção vegetal & Deficiências minerais em culturas”, dentre outros artigos e publicações.
Velório e enterro
O velório e o enterro acontecerão no cemitério de Congonhas neste domingo, 5. Velório a partir das 10H00. Enterro às 16H30.
Rua Ministro Álvaro de Sousa Lima, 101 – Jardim Marajoara, São Paulo (SP).