Em meio a essa situação complexa, o Itamaraty acena com o financiamento da industrialização paraguaia, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que levaria o país vizinho a consumir sua própria energia em vez de vendê-la a preço baixo. Seria uma forma indireta de ajudar o Paraguai, apoiando seu desenvolvimento.
O tema é delicado. Requer diplomacia. Aí, entrou em cena o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), brasileiro ? apoiando o governo guarani. O MST se prontificou com o presidente paraguaio, o ex-bispo de esquerda Fernando Lugo, a disseminar a tese de que a reivindicação de rever o tratado é justa. E isso tem sido feito nos acampamentos e assentamentos sem-terra, com a explicação de que o Paraguai necessita de recursos.
Não estão descartadas, para as próximas semanas, manifestações de apoio aos vizinhos. De acordo com o líder sem-terra João Pedro Stédile, trata-se de “uma questão social e de soberania sobre os recursos naturais”. A proposta do governo paraguaio é transferir a dívida atual de Itaipu Binacional, que está em US$ 19,6 bilhões, para os Tesouros dos dois países. O do Paraguai ficaria com apenas US$ 600 milhões. O do Brasil, com US$ 19 bilhões.
O governo brasileiro tem buscado, nas últimas semanas, convencer o MST e outros movimentos sociais de que o tratado de Itaipu é perfeito e acabado: o Brasil assumiu o empréstimo para a realização da obra, e o Paraguai, que tem direito a 50% da energia gerada pela hidrelétrica, ficou de pagar a conta cedendo a baixo custo o que não fosse por ele utilizado. Tudo muito simples.