No último fim de semana, o Movimento Sem Terra (MST) invadiu três fazendas em diferentes cidades da Bahia: Jaguaquara, Juazeiro e Guaratinga.
Segundo o MST, mais de 500 famílias estão em áreas consideradas improdutivas pelo movimento.
A fazenda Jerusalém, em Jaguaquara, foi ocupada na madrugada de domingo (23) e cerca de 200 famílias permanecem no local. De acordo com o movimento, a fazenda tem um decreto de desocupação desde 2010, mas já foi ocupada anteriormente.
Na cidade de Juazeiro, a ocupação aconteceu na comunidade do Salitre, também no domingo. O MST informou que cerca de 200 famílias estão no local, que tem pouco mais de 4 mil hectares. Algumas áreas da comunidade já foram ocupadas em outras oportunidades pelo grupo.
De acordo com o MST, as ocupações fazem parte da chamada ‘Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária’, também conhecido como ‘Abril Vermelho’.
As novas ações aconteceram no mesmo fim de semana em que MST anunciou que deixou uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Petrolina (PE). E uma área da empresa de celulose Suzano, no Espírito Santo.
MST disse que iria continuar invadindo
Na última quinta-feira (20), a direção do MST foi recebida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em São Paulo.
Na ocasião, o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, disse o MST ia manter as ações.
“Áreas improdutivas nós vamos continuar ocupando porque queremos para a reforma agrária. As áreas que são produtivas e que estão cumprindo sua função social o MST não tem por que reivindicar para a reforma agrária. Não tem motivo para o MST criar conflito ou constrangimento para o governo Lula. O MST é parceiro desse governo. Temos uma agenda de produção de alimentos. Agora, nós achamos justo que, no mês de abril, o MST possa apresentar sua pauta”, disse.
Ao longo da última semana, o MST teve uma agenda intensa com o governo federal.
Sobre a reunião com Haddad, Rodrigues, disse que o Ministério da Fazenda vai aumentar os recursos para obtenção de terras para a reforma agrária.
“O orçamento da reforma agrária que nós herdamos do Bolsonaro é de R$ 250 milhões [em 2023] para obtenção de terra, no Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. O governo está se comprometendo a chegar a R$ 400 milhões, mas é insuficiente para assentar 60 mil famílias acampadas”, disse o dirigente do MST após a reunião, realizada no escritório do governo federal, em São Paulo, na avenida Paulista.
De acordo com Rodrigues, para assentar as 60 mil famílias acampadas atualmente no país, seria necessário um orçamento de, aproximadamente, R$ 1,3 bilhão. “O ministro Fernando Haddad disse que não tem como repor esse orçamento esse ano”, ressalvou.
O coordenador do movimento social afirmou que o ministro propôs trabalhar no sentido de obter terras, para a reforma agrária, advindas de proprietários devedores da União. “O compromisso que o ministro firmou conosco é que ele vai trabalhar este ano em tentar obter terra de devedores da União”, disse.
Desgaste com o governo Lula
Membros da Esplanada já expuseram o receio de as constantes invasões do Movimento diminuírem o capital político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dentro do alto escalão do Executivo, existe o medo de que as pesquisas de opinião reflitam de maneira negativa na avaliação do governo, podendo, até, atrapalhar a tramitação de projetos no Congresso Nacional.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, criticou as ocupações que o MST promove em fazendas e propriedades rurais. Segundo ele, existem “outras formas de lutar” e reivindicar os direitos.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o ministro Paulo Teixeira afirmou que as últimas invasões do MST estressaram a relação do grupo com o governo do presidente Lula.
Ele disse que um plano nacional de reforma agrária vinha sendo discutido, mas agora deve atrasar.