A polêmica sobre o cultivo de soja em fevereiro tem um novo capítulo. O Ministério Público de Mato Grosso move uma ação civil pública contra a Aprosoja, pedindo que a Justiça obrigue a instituição e os produtores a destruírem as áreas que foram semeadas fora do calendário permitido pelo estado. O cultivo a que se referem são estações experimentais, com o objetivo de pesquisar para avaliar as condições sanitárias das lavouras plantadas em fevereiro, para produção de sementes. Os produtores alegam que a pesquisa está autorizada pelo Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea).
Uma das 17 estações de pesquisa localizadas em diferentes regiões do estado, está instalada na fazenda Monte Cristo, em Sinop (MT). A área de 50 hectares com soja foi plantada no dia 1º de fevereiro, data que extrapola o calendário autorizado no estado (de 16 de setembro a 31 de dezembro). Ao lado da área de pesquisa, está uma lavoura semeada no fim de dezembro, dentro do período permitido, para servir de comparação.
Os produtores acreditam que os resultados comparativos servirão como argumento para comprovar a viabilidade do cultivo em fevereiro.
“A soja plantada em dezembro já precisamos fazer sete aplicações de fungicidas e oito contra percevejos. Na soja de fevereiro, estamos com apenas duas aplicações de fungicidas e três contra percevejos. A pressão de pragas e doenças em fevereiro é muito menor”, comenta o responsável técnico da fazenda, Dennis Resende.
Estes e outros resultados do experimento serão apresentados aos órgãos contrários ao plantio de soja em fevereiro para produção de semente. A ideia é provar também que as áreas semeadas na primeira quinzena de fevereiro são atingidas com menos severidade pela ferrugem asiática. Além disso, apresentam melhor desempenho já que não ficam expostas às chuvas frequentes e intensas da segunda quinzena de janeiro.
A pesquisa é realizada pela Fundação Rio Verde e pelo Instituto Aris, atendendo a uma demanda da Aprosoja-MT.
“O objetivo é comprovar que este plantio tardio tem fundamento e mostrar as informações técnicas e científicas aos órgãos competentes”, defende o diretor executivo da Fundação Rio Verde, Rodrigo Pasqualli.
A lavoura experimental de soja para semente será acompanhada até a colheita, e esse prazo não irá ultrapassar o dia 16 de junho, quando se inicia o vazio sanitário.
“Até o final de maio, essa lavoura de fevereiro já estará colhida. Mas antes disso há uma busca em folhas de toda a área para saber a severidade e a quantidade de ferrugem asiática, para mostrar que não há problemas. Aqui por exemplo, temos as plantas todas sadias, sem incidência da doença”, afirma o consultor técnico da Aprosoja, Wanderley Guerra.
Ao final de janeiro, o Ministério Público do estado determinou a suspensão do plantio de soja para semente em fevereiro e os produtores dizem temer pela conclusão do experimento.
“O produtor tem o anseio de mudar esse calendário de plantio de soja para salvar sementes, por já saber que em fevereiro os resultados são melhores e menos custosos. As sementes colhidas tem melhor qualidade e com menos aplicações de agrotóxicos”, diz Ilson Redivo, presidente do Sindicato Rural de Sinop
Para o comentarista do Canal RUral, Miguel Daoud, até o momento quem proíbe a pesquisa para esta mudança, não apresentou razões e estudos para isso.
“Achei estranho que até o momento não há uma pesquisa sobre o tema. Acho que a principal questão do lado de quem proíbe é a ferrugem asiática. Só que a colheita da soja de fevereiro é realizada antes de começar o vazio sanitário. Portanto, acredito que os órgãos têm que fazer suas pesquisas. Não adianta proibir na dúvida se aquilo é ou não é ruim”, argumenta.