Cem famílias passam os dias em quartos, salas e cozinhas improvisados. A dona de casa Gonçalina Maria da Silva prepara o almoço no fogão a lenha, repetindo a rotina dos últimos nove anos em que está acampada. Realidade bem diferente do que sonhou.
? Não era a vida que eu queria, é muito difícil e ruim viver assim. Tendo que cozinhar debaixo de lona com tudo improvisado. Meu sonho é ter um pedacinho de terra, onde possa ter uma criação e plantar ? conta.
Os barracos foram montados há duas semanas. No local estão concentradas famílias que integram pelo menos cinco acampamentos espalhados pelo Estado, à maioria às margens da BR-364. Elas cobram agilidade no processo de reforma agrária, que este ano ainda não avançou em Mato Grosso.
Segundo os movimentos sociais, cerca de 30 mil famílias aguardam o retorno das demarcações.
? As ações estão paradas, sempre há promessa, mas não passa disso ? informa o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Acampados e Assentados de Mato Grosso, Benedito Correa.
Quem já conquistou o lote também participa da manifestação. O assentado Domingos José da Silva reclama das condições enfrentadas pelos agricultores familiares, que não têm recursos para tocar os projetos.
? Não há recursos para os projetos. Para sobreviver temos que tirar o sustento vendendo algum leite, verdura, algo que produzimos no local, mesmo sem apoio ? relata.
Outros motivos do protesto são o arrendamento e a comercialização ilegal de lotes. Crimes que estariam acontecendo em várias regiões do Estado. Os manifestantes querem uma audiência com a superintendência do Incra para cobrar maior fiscalização dos responsáveis.
? Em todos os assentamentos de MT existem irregularidades. O Incra precisa atuar com rigor e competência para acabar com isso e destinar os lotes a quem realmente precisa ? desabafa Correa.
Em Mato Grosso existem 538 assentamentos. Eles ocupam uma área de quase seis milhões de hectares. Atualmente 82.187 mil famílias estão assentadas no Estado.
Nesta segunda, dia 18, as lideranças dos movimentos sociais se reuniram com o superintendente do Incra em Mato Grosso, Willian Sampaio, e com o ouvidor agrário do Estado, Salvador Soltério de Almeida. O órgão prometeu retomar em um mês as vistorias de áreas passíveis de reforma agrária e anunciou que vai solicitar recursos à União para ampliar as ações contra a venda irregular de lotes. Quanto à liberação de recursos para os assentados, explicou que o acesso às verbas depende do licenciamento ambiental dos projetos que ainda não foi emitido.