Portaria estendeu o prazo de 90 para 137 dias a partir da próxima safra; Aprosoja-MT contesta a decisão
Fernanda Farias | Rondonópolis (MT)
Os produtores de Mato Grosso estão preocupados com o vazio sanitário da soja, que foi estendido de 90 para 137 dias a partir da próxima safra. A portaria, elaborada em conjunto pela Secretaria de Agricultura do Estado e Instituto de Defesa Agropecuária (Indea-MT), é contestada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT).
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Depois de 25 dias sem chuvas, nossa equipe encontrou produtores do sul de Mato Grosso preocupados. A lavoura do produtor rural Márcio Pacheco deveria estar 80% cultivada. Dos 740 hectares, apenas 150 foram plantados. Ele também prevê outro problema por consequência desse atraso. A produtividade da soja deve cair 15% com o ataque praticamente certo da ferrugem asiática, já que a planta estará se desenvolvendo bem na época de chuvas.
– Se tivermos que aplicar mais fungicidas, vai incrementar de 10 a 20% no custo original da lavoura. Com a produção mais baixa, vai afetar bastante o produtor – afirma Pacheco.
O agricultor da região também está atento com a mudança no calendário do vazio sanitário em Mato Grosso. O controle da ferrugem asiática e o uso de fungicidas na segunda safra foram as principais justificativas para a decisão. A Aprosoja-MT contesta esta versão e contratou estudos técnicos para ampliar a discussão sobre o assunto. Uma das preocupações é a produção de sementes salvas, que será afetada com a antecipação do vazio de 15 de junho para 1º de maio.
• Atraso no plantio da soja já reflete na segunda safra de milho em Lucas do Rio Verde (MT)
– A produção de sementes salvas se dá na safrinha, isso será prejudicado. Para nós produtores, é importante uma maneira de regular o mercado de sementes. Existem problemas técnicos com a soja safrinha. Nós somos conscientes, o uso intensivo de defensivos é um problema, a falta de rotação é outro problema, mas temos questões de mercado que precisam ser observadas – pondera, Ricardo Tomczyk, presidente da Aprosoja-MT.
Para o controle da ferrugem asiática, a entidade defende estender o vazio sanitário para 30 de setembro, sem alterar a data de início.
– Para que se diminua a janela de plantio de soja e possibilite um início de colheita mais alinhado em todo o Estado. Impedindo distorções entre épocas de colheita. O que acontece é que o produtor que colhe muito acaba jogando inóculos de ferrugem para os outros. Estamos trabalhando tecnicamente para voltar ao debate – explica.
A antecipação no vazio acaba afetando o produtor que faz segunda safra. Ele terá mais custos para preparar a lavoura. Essa é a situação do sojicultor Silvino Bortolini, que cultiva 3.600 hectares na região.
– Nós vamos ter uma despesa a mais para matar a soja guaxa, que antes morria sozinha até junto. Vamos ter que dessecar e nós teremos que usar mais herbicidas – estima Bortolini.
Há também produtores que defendem a mudança no período de vazio sanitário. O produtor Rogério Berwanger, que na safra passada perdeu produtividade por causa da ferrugem asiática, apoia a alteração.
– Estendendo o vazio, nós vamos ter longevidade dos fungicidas. O agricultor não pode pensar momentaneamente, tem que pensar no futuro. Ter consciência de que o vazio tem que ser ampliado para a segurança dele – comenta.
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