Patrícia Braga (cachaça Dom Braga), Jeanine Sangalli (Água da Pipa), Luzia Abreu (Bento Albino), Cristiane Barcelos (Moenda Nobre) e Carla Adam (Moenda Nobre) formam uma turma unida. Estão à frente de quatro alambiques do Rio Grande do Sul que produzem por ano 110 mil litros de cachaça.
É pouco se comparado com os cerca de 500 milhões de litros que o Brasil produz em alambiques, ou mesmo com os 15 milhões de litros fabricados no Rio Grande do Sul. Mas não é em quantidade que a bebida das gaúchas pretende se destacar. Um dos desafios das cinco empresárias é enfrentar a idéia de que cachaça é coisa para homens e construir um mercado para o produto de qualidade.
? Acontece muito de eu ir a um bar, pedir uma cachaça e o garçom ficar assustado. Ainda mais aqui no Rio Grande do Sul. Em outros Estados, é até comum chegar em um restaurante fino e te oferecerem uma cachaça de aperitivo ? conta Luzia.
Durante a reportagem, as cinco empresárias da cachaça gaúcha sorriram, retocaram a maquiagem, deram risada dos momentos divertidos que passaram desde que se conheceram. A relação foi construída durante a convivência nas reuniões do grupo Alambiques Gaúchos, que reúne 17 estabelecimentos e é coordenado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Hoje, as cinco são muito mais amigas do que concorrentes.
? Com a gente não tem essa coisa de segredo industrial. Dividimos experiências. Quando uma consegue uma boa muda de cana, passa para outra. Quando descobre bom fornecedor, indica ? relata Patrícia.
Recentemente, os alambiques administrados pelas integrantes do grupo se uniram para comprar mais barato cerca de 12 mil garrafas de vidro, em um negócio que envolveu também a cachaça Weber Haus. Nas feiras nacionais e internacionais, as empresárias dividem estandes e engrossam o coro do Alambiques Gaúchos, lembrando que das 29 marcas de cachaça com qualidade certificada segundo padrões do Instituto Nacional de Metrologia, 11 são do Rio Grande do Sul.
? Não temos como competir em volume com Estados como Minas Gerais. Mas, em qualidade, já estamos ? assegura o coordenador de Agronegócios do Sebrae-RS, Angelo Aguinaga.
Um aumento da ligação das mulheres com o negócio da cachaça e a possibilidade de se trabalhar o público feminino como consumidor foi constatado no estudo acadêmico que Carla Adam fez sobre o mercado, antes de investir R$ 300 mil para montar o próprio alambique, no ano passado.
? Há muito campo a ser explorado (entre consumidoras), porque a mulher tende a ter um gosto refinado, presta mais atenção nos detalhes e conta com paladar aguçado ? diz.
Pelo menos entre as amigas, Jeanine já disseminou o gosto pela cachaça. Na confraria feminina que mantém com 17 mulheres, sempre dá um jeito de falar sobre o produto e promover degustações. E não se furta a responder a quem, por brincadeira ou preconceito, a chama de cachaceira.
? Sou cachaceira, sim. Com muito orgulho!