Miguel Barros tem uma plantação de milho com mais de 400 hectares. O proprietário resolveu doar todos os anos 1% de tudo que colhe. Em média, a doação totaliza 45 mil quilos.
? Essa idéia surgiu quando o padre falou: preciso de um produtor pra fazer a festa do milho. Então falamos para o padre: conseguimos produzir. Era pouquinho, começou pequeno. Começou com 500 quilos ? conta o produtor rural.
O padre José Cardoso é da paróquia de São Roque, do município de Itapetininga, há 170 quilômetros de São Paulo. Segundo ele a festa é religiosa, que nestes dias se divide entre o altar e galpão aonde chega o milho que é doado. Da produção do Miguel chegam 100 sacas por dia.
? É um momento de agradecer a Deus por ter dado essa possibilidade de termos esta região tão produtiva como é a nossa ? ressalta o padre.
Itapetininga tem vocação agrícola, e o milho é um dos produtos que movimenta a economia da cidade. Miguel vive disso, tira de 80 a 100 mil sacas nas duas safras no ano. Vende tudo pras granjas da região. Na última semana ele conseguiu até R$ 28 pela saca o que, segundo ele, é um preço bom. Mas nesta época, a produção de que ele mais gosta de falar é a de milho verde, que ele doa pra igreja.
? É uma atitude incalculável a de ele de plantar o milho. Toda a festa aqui depende do milho. Se não tiver milho não tem festa ? afirma Cardoso.
No dia é realizado um mutirão pra fazer a festa. Algumas pessoas chegam às oito horas da manhã. Um dos trabalhos é realizado por Zé Carlos que corta a pontas das espigas, facilita o trabalho da Bernadete, que tem que descascar uma a uma. Já Joaquim Rodrigues é considerado um inventor em Itapetininga. Foi ele quem consertou a máquina para ralar espigas.
Na cozinha, o milho verde vira tentação gastronômica. É preparada a especialidade do lugar, o croquete, o curau, doce que lembra um pudim e a pamonha. Outro prato que dá bastante trabalho, mas que é um sucesso na festa é a sopa de milho.
O preparo da sopa leva alho, sal, creme de cebola, tempero verde e milho, é claro. O prato é servido com frango e dá até fila. Por noite, são mais de 800 pratos. Segundo o funcionário público Amauri do Amaral, é preciso ter braço pra fazer a sopa.
? Tem que ficar mexendo duas horas cada panela pra poder chegar ao ponto de sopa mesmo ? conta Amaral.
O milho verde é considerado pelos nutricionistas um excelente alimento. É rico em vitaminas, tem baixo índice de gordura e ainda possuí a melatonina, substância que retarda o envelhecimento. Agora, é preciso dizer que o milho é um alimento calórico também. Um quilo tem quase 1300 calorias.
A festa do milho verde de Itapetininga dura 10 dias por onde passam cerca de 30 mil pessoas. Pra alegria do padre, dos voluntários e de quem é fundamental pra que tudo isso aconteça todos os anos.
? Pra gente é uma emoção ver esta turma aí festejando, comendo as delícias das coisas do milho que vem lá do campo. Pra gente é muito grato ? ressalta Barros.
A realização da festa, que termina neste domingo, é motivo de agradecimento da comunidade.
? Depois de passar tudo isso nós vamos fazer uma missa só pra agradecer todo o trabalho que o pessoal daqui fez ? conclui o padre.