A cidade já foi chamada de “Paragobala”, em referência às frequentes ocorrências policiais que faziam parte da rotina da população. Devido ao alto índice de desmatamento, Paragominas perdia benefícios, investimentos e financiamentos.
Antes da mobilização que modificou para sempre a cultura da população, a Força Nacional realizou ações de repressão, autuou e fechou empresas. Em 2009, o Ministério Público Federal embargou a carne produzida no Pará, fazendo com que produtores, indústrias e frigoríficos sentissem no bolso as consequências da falta de consciência ambiental.
– Nós chamamos no auditório da prefeitura a sociedade organizada. Naquele momento, com 51 entidades e vereadores, fizemos um pacto: desmatamento zero. A partir dali, ninguém mais iria desmatar. Trabalhar de forma correta, ambientalmente correta e socialmente justa, assim começou a mudança de consciência, a quebra do paradigma – afirma o prefeito da cidade, Adnan Demachki.
As medidas, no entanto, enfrentaram a resistência de um grupo que defendia a extração ilegal de madeira em terras indígenas. Revoltados, eles colocaram fogo em caminhões apreendidos, em carros do Ibama e tentaram linchar funcionários do órgão hospedados em um hotel do município. A violência trouxe de volta a Força Nacional.
A sociedade reafirmou o pacto pelo desmatamento zero e a prefeitura fez uma campanha para incluir as propriedades no Cadastramento Ambiental Rural (CAR).
– Somos o único município da Amazônia que monitora seu desmatamento por satélite. Temos 98% do território municipal já cadastrados com CAR. Quuanto você tem o cadastro, sabe qual a área de produção, reserva legal e passivo ambiental que vai ter que corrigir ao longo dos anos – pontua o prefeito.
O trabalho deu resultado: em 2010, Paragominas saiu da lista dos municípios que mais desmatavam. O programa também não se limita apenas à zona rural. A criação do Parque Ambiental de Paragominas ajuda a mudar a cultura dos habitantes na área urbana.
– O que Paragominas tem de diferente em relação às outras cidades? O município verde. Ser reconhecida no Brasil pelo sistema que vem aderindo, reflorestamento, sustentabilidade. Antigamente, era uma cidade escassa, não tinha coisas boas. Gosto de morar aqui porque ela é exemplo para outras cidades de como amenizar os problemas no Brasil – diz o morador Lucas Gomes da Costa.
Adnan Demachki está deixando a prefeitura após oito anos de comando. Ele ressalta as conquistas do programa Município Verde, que já plantou 50 milhões de árvores e, a cada ano, planta mais cinco milhões de mudas. O sucesso foi tão grande que o governo do Estado implementou o programa em outros municípios do Pará.
O prefeito explica que as escolas recebem educação ambiental, com assuntos relacionados às medidas implementadas na cidade, como reflorestamento, agricultura de baixo carbono, financiamentos na Amazônia para o baixo carbono, entre outros.
Até 2017 a meta é plantar 12 metros quadrados por habitante na zona urbana do município.
– Se tivesse baixado um decreto, nada disto teria acontecido. Aconteceu porque o segredo foi chamar a sociedade. Firmamos um grande pacto, uma decisão coletiva – expica Demachki.
O reconhecimento ultrapassou fronteiras e o trabalho ambiental foi homenageado no Fórum Mundial de Empreendedores Sociais, realizado na Inglaterra.