Mesmo apontando problemas, principalmente no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, o ministro dos Transportes, César Borges, garantiu que a paralisação é pontual e que não irá prejudicar o escoamento da produção:
– Quem quiser ficar parado, fique à margem, mas asseguramos o direito de ir e vir de quem quiser passar. E isso estamos conseguindo em muitos pontos. As cargas estão transitando de modo geral. Então, não há sinal de desabastecimento.
O ministro também criticou a atuação do líder do movimento, Nélio Botelho.
– Apenas o Movimento União Brasil Caminhoneiro e o senhor Nélio Botelho insistem nessa posição. Ele propõe um desabastecimento através dessa paralisação, seja de combustível, seja de alimentos, trazendo um caos à sociedade brasileira e à economia.
O empresário teve os bens penhorados pela Justiça, que determinou multa de R$ 6 milhões pelo bloqueio de estradas. Nos Estados de Rio de Janeiro e Minas Gerais, a pena diária é de R$ 100 mil por hora, em caso de descumprimento. O advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, orientou que a Petrobras reavalie os 39 contratos que mantém com cooperativas e empresas administradas pelo líder do movimento. O valor chega a R$ 4 milhões por mês.
– A administração não pode manter contratos com quem pratica atos ilícitos e ao contrário da legislação – disse Adams.
Ao portal G1, Botelho rebateu, afirmando que o governo o faz de ‘bode expiatório’. Ele afirmou que é um transportador autônomo, possui apenas um único veículo e é membro da diretoria de uma coopertativa de transporte de carga, que, segundo ele, é uma empresa comercial, mas sem fins lucrativos. O Canal Rural tentou contato com Botelho, mas sua assessoria de imprensa afirmou que ele ainda não irá se pronunciar.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prometeu investigação e punição rigorosas para quem bloquear as estradas.
– O locaute é proibido no Brasil. Portanto, se alguém espera algum tipo de negociação, se equivoca, não se negocia a prática de crimes. Não se tolera. Nós vamos ser muito rigorosos nisso.
O rigor foi salientado também pela presidente Dilma Rousseff.
– É fundamental no país que estradas não sejam interrompidas, e o meu governo não ficará quieto perante processos de interrupção de rodovias. Ordem significa democracia, mas significa respeito às condições da produção, da circulação e da vida da população brasileira – salientou Dilma.
A presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abre (PSD-TO) afirmou que “fechar estradas não é a solução” para a questão dos caminhoneiros.
– Esse [bloqueio de rodovias] não é um instrumento adequado para as reivindicações. Não podemos ir nessa direção. Tem brasileiros que precisam passar nas estradas e não podem ser impedidos por problemas de outros. Tem outras formas de reivindicação – afirmou.
Ao contrário do que diz o governo federal, os reflexos das manifestações já são sentindos em algumas regiões. No Ceagesp, maior entreposto do país, o comerciante Victor Luiz do Nascimento Souza, vendedor de batatas, diz que enfrenta problemas com entregas das mercadorias vindas do Paraná e de Minas Gerais. Os poucos caminhões que chegam não dão conta da demanda.
– Com essa greve, a mercadoria não chega e não tenho como fornecer aos meus clientes. Ou seja, meus clientes ficam estressados e não consigo entregar. Acabo perdendo vendas.
Na terça, dia 2, o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz, informou que os protestos de caminhoneiros pelo país causam “alguma preocupação com o suprimento de biocombustíveis”, como etanol e biodiesel. Já a Aurora Alimentos precisou parar as atividades em três unidades em Santa Catarina. Além da trégua no abate de animais, aves e suínos estão sem alimentação, já que os estoques de ração são limitados na região.
Treze rodovias estão paralisadas
Treze rodovias em seis Estados (Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) continuam interditadas no terceiro dia de protestos. Os motoristas permitem a passagem de ônibus e carros, mas todos os caminhões são obrigados a parar. A manifestação deve continuar até as 6 horas desta quinta, dia 4, conforme previsto na convocação da categoria.
Além do subsídio no preço do óleo diesel e da isenção no pagamento do pedágio, os caminhoneiros reivindicam sanção do projeto de lei do motorista que organiza a profissão, criação da secretaria do Transporte Rodoviário de Cargas, aposentadoria com 25 anos de serviço, postos de saúde ao longo das estradas, segurança e melhoria da infraestrutura viária.