O Brasil deve continuar sendo o protagonista no mercado internacional de açúcar em 2025, mesmo com as dificuldades climáticas que impactaram o setor sucroenergético no atual ciclo de moagem. Essa é a conclusão do CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono; do head da Alvean para o Brasil, Júlio Adorno; e do diretor da Archer Consulting, Arnaldo Corrêa.
Os três participaram da nona edição da série de Lives “Conexão SCA Brasil”, transmitida na última terça-feira (19).
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De acordo com os especialistas, embora fluxos comerciais no primeiro semestre do próximo ano estejam vulneráveis a choques de oferta, a dependência global pelo produto brasileiro continuará robusta, ainda mais se as expectativas sobre um bom desempenho da produção na Ásia e União Europeia não se confirmarem.
Preços do açúcar nos próximos anos
A respeito da previsão de preços do açúcar, o diretor da Archer Consulting apresentou levantamento dos últimos 20 anos, cuja base de cálculo leva em consideração os preços de Nova York, os transforma em Reais por tonelada e faz um ajuste final levando em conta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Com isso, tem-se uma ideia mais clara de como os preços se movimentaram ao longo dessas décadas. De 2004 a 2024, em apenas 10% das vezes o mercado ficou acima de R$ 2.956,00 por tonelada, e em 90% das vezes ficou em R$ 1.609,00 por tonelada. São indicadores que servem de parâmetro para que as usinas avaliem se é o momento ou não para fixar preços”, observou Côrrea.
Sobre as cotações internacionais do açúcar, que variaram entre US$ 17 e US$ 23, com expectativas de oscilar entre US$ 19 e US$ 25 por tonelada, o especialista acredita que nas safras 2025/26 e 2026/27, o índice deverá aumentar.
“Temos um potencial de elevar esse preço de 300 a 400 pontos. Ou seja, esse patamar de 18 centavos de dólar por libra-peso não vai permanecer”, avaliou Corrêa.
Impactos da eleição de Donald Trump
Durante a live, os três executivos discutiram a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e os reflexos disso nos mercados globais de commodities.
Arnaldo Corrêa analisou alguns pontos defendidos pelo próximo presidente americano, como o aumento nas tarifas de importação de produtos chineses.
“De forma suscinta, é preciso entender que Estados Unidos e China vivem uma simbiose, ou seja, um precisa do outro. A China tem a maior reserva de dólares do planeta. Se ela quisesse utilizar essa reserva no mercado como medida de retaliação ao aumento de impostos, quebraria ambas as economias. Não haverá vencedores numa possível guerra comercial entre os dois países”.
No entanto, Corrêa complementou dizendo que um acirramento comercial entre as duas nações mais poderosas do mundo pode beneficiar o Brasil, em certa medida. “O Brasil pode ganhar espaço nos grãos, que deixariam de ser comprados pela China dos Estados Unidos e viriam para nós. Então aí entra um ponto importante sobre como será a formação de preço do etanol de milho para responder a esse eventual processo”, afirmou.
Perspectiva de moagem
Os três especialistas fizeram, ainda, projeções sobre a moagem. De acordo com a SCA Brasil, ao final da temporada 2024/25, esse índice pode variar entre 606 e 608 milhões de toneladas.
O patamar considera a deficiência hídrica da ordem de 400 a 500 milímetros em todas as regiões canavieiras do país e os incêndios de grandes proporções que atingiram 665 mil hectares de cana-de-açúcar em todo o Brasil, sendo que, deste total, mais de 465 mil ha foram em São Paulo, principal estado produtor.
Segundo Martinho Ono, o índice Tonelada de Cana por Hectare (TCH) vem apresentando uma tendência de queda. O TCH médio acumulado no final de outubro foi de 80,1%, uma queda de 10,4% em comparação aos 89,4% verificados em igual período de 2023.
De acordo com ele, até o final da safra, haverá uma expansão na área do canavial, chegando a 7,725 hectares, aumento de 3,3% em relação ao ano anterior.
O executivo da SCA enfatizou que os problemas verificados na atual safra impactarão o próximo ciclo agrícola, em 2025/26, cujo processamento deverá ser de 565 a 585 milhões de toneladas de cana.
“Haverá problemas com germinações desiguais, cana com menor TCH, em especial na primeira metade da safra, morte de soqueiras, pior qualidade de plantio e atraso do desenvolvimento da planta e pragas/doenças. Em síntese, em 2025 deve haver necessidade de mais replantio e menor área disponível para colheita”, disse Ono.