MT: necessidade de replantio eleva custo da soja

Outro problema é que agricultores não conseguem encontrar variedades específicas das sementes

Fonte: Lucas Costa Beber/Nova Mutum (MT)

Além da perda de produtividade em áreas de soja precoce, a falta de chuvas no sudeste de Mato Grosso trouxe outro problema para alguns agricultores da região, que precisaram replantar as lavouras muito afetadas pela estiagem nos primeiros dias após a semeadura. Eles relatam que a área replantada na safra 2015/16 foi superior à dos anos anteriores, aumentando os custos de produção em algumas regiões.

Ailor Carlos Anghinoni, proprietário da Fazenda São Francisco, em Rondonópolis (MT), disse que “somando toda a área que tive que replantar nesses 34 anos que estou produzindo soja aqui, não dá o que replantei nesse ano”. O agricultor informa que foi necessário replantar cerca de 25% dos 1,8 mil hectares de soja em sua propriedade. “Temos uma área pequena considerando a região e por isso não podemos arriscar, tentamos sempre plantar com segurança”, disse. Após iniciar a semeadura da soja, no início de outubro, Anghinoni escolheu interromper os trabalhos por causa de um período de 15 dias sem chuvas na região. Com esse tempo de máquinas paradas, a semeadura foi retomada em 28 de outubro e encerrada no fim de novembro. “Normalmente, gosto de começar em 10 de outubro”, explicou ele.

Preocupado em manter bom manejo da cultura mesmo nas áreas replantadas, Anghinoni refez parte da adubação do solo e, considerando a compra de mais sementes, o combustível e fertilizantes, o custo dessas áreas ficou 50% acima da média para o proprietário, o que aperta as margens de lucro do produtor. Outra desvantagem do replantio é a dificuldade de encontrar variedades específicas de semente. “Você acaba plantando o que tem para comprar na revenda, e não a semente que você queria, que sabe que tem melhor produtividade naquela área”, ressaltou.

Apesar dos problemas enfrentados no início do ciclo, Anghinoni diz que “de modo geral, a lavoura está bonita, devemos fazer a média de produtividade do ano passado, em torno de 60 sacas por hectare”. Nessa semana, a Fazenda São Francisco está colhendo as primeiras áreas de soja. 

Em contrapartida, em lavouras que ficaram expostas à seca e que não foram replantadas, houve grande perda de produtividade. Também em Rondonópolis, o produtor Osvaldo Pasqualotto teve problemas com os primeiros talhões de soja, que foram semeados em meados de setembro. 

“Sempre planto soja no pó, para liberar área para o milho, já faço isso há mais de 30 anos e sempre choveu”, afirmou o agricultor. Neste ano, entretanto, algumas áreas tiveram até 45 dias sem chuvas e com temperaturas elevadas, segundo ele. “Cheguei a pensar em replantar, mas a ideia era terminar o plantio das outras áreas antes. Aí quando chegou na hora, não quis tirar a soja, que já tinha começado a crescer”, explicou.

Nesses primeiros talhões, que já foram colhidos, a produtividade da soja caiu para 42 sacas por hectare, com presença de grãos ardidos. A colheita da soja ainda não foi encerrada nos 6,5 mil hectares semeados, mas Osvaldo Pasqualotto estimou rendimento médio de 48 sacas por hectare, abaixo do apurado no ciclo anterior, de 52 sacas por hectare.

Em Primavera do Leste (MT), outro agricultor, que não quis revelar o nome, relatou problemas com a seca. Segundo ele, a falta de umidade no plantio causou a redução do porte das plantas em sua propriedade. Apesar de não ter sido necessário replantar áreas, o produtor relatou que algumas propriedades vizinhas tiveram mais problemas e há relatos de áreas onde foi necessário replantar duas vezes. “A chuva só normalizou no fim de dezembro e isso trouxe grandes prejuízos”, afirmou a fonte. “Quem replanta mais de uma vez está tentando perder menos dinheiro, mas sabe que é difícil”, concluiu.