Setor produtivo rompe diálogo com as indústrias detentoras da tecnologia Bt após as multinacionais não comparecerem a encontro na CNA
Canal Rural | Brasília (DF)
O diálogo entre o setor produtivo e a indústria sobre as áreas de refúgio para a tecnologia Bt acabou. É o que afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale. Segundo ele, as tratativas estavam evoluindo até a última segunda, dia 28, quando as empresas detentoras da tecnologia não compareceram a um encontro para definir o assunto.
– A reunião de ontem seria a proposta final para o setor produtivo e não apareceram. Eu achei um tremendo descaso, e resolvemos mostrar a eles que nós não temos mais o que conversar, o dialogo acabou ali. A gente entende que não há uma importância para a indústria como a gente está achando importante para os produtores – argumentou Dalpasquale.
A discussão de refúgio para as tecnologias Bt, que tem resistência a insetos, para a soja, milho e algodão se arrastam há anos. No ano passado, um grupo de trabalho foi montado, mas não avançou na implantação. Nesta safra, o Soja Brasil mostrou produtores que continuam a fazer o refúgio de maneira errada.
–O que estamos tentando é normatizar algo que dê longevidade para a tecnologia. As empresas têm um trabalho importante neste processo, que é levar o conhecimento. O que nos queríamos era que a empresa sentasse com a gente e assumisse o compromisso de ajudar o produtor: como fazer, qual o tamanho, a maneira que faz. Isso é responsabilidade dos donos, que têm o conhecimento intelectual. Não é papel do setor produtivo – explica.
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Após o rompimento, a Aprosoja Brasil, Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), Abrass (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes), Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) resolveram adotar medidas legais, sem especificar quais, para sanar o problema e garantir a segurança ao agricultor.
– Nós conhecemos bem a legislação e o que o CTNBio (Coordenação-Geral da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) faz. Vamos buscar fragilidades, que não são boas para as indústrias e nem para nós. Mas se a indústria não quer conversar, vamos buscar o que é de direito e proteger o setor produtivo – completa Dalpasquale, que preside a Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA.
Refúgio
As áreas de refúgio são destinadas à preservação da tecnologia Bt, que tem resistência a insetos. É uma parte da lavoura que deve ser cultivada com a soja convencional, para que sirva como área de reprodução de insetos, para que eles não ganhem resistência ao grão geneticamente modificado.
O Ministério da Agricultura entende que as recomendações das empresas detentoras da tecnologia estão adequadas. A área para a soja é, no mínimo, 20%; milho é 10%; algodão, apesar de não ter uma recomendação das fabricantes, chegou-se a 20% da área. A adoção do refúgio não é obrigatória.
O plantio da soja de refúgio pode ser feito numa área ao lado da soja Bt. Outra opção é em faixas ou, ainda, em volta da plantação. A semente indicada é a RR, que tem resistência ao glifosato. Se o plantio for dentro de um sistema de pivô, a recomendação é que o refúgio fique no centro ou em uma faixa lateral.
É importante que a distância entre refúgio e lavoura Bt não ultrapasse os 800 metros. Essa é a capacidade de distância do voo das mariposas, o que permite a reprodução dos insetos, segundo os pesquisadores.