El Niño abre espaço para queda maior sobre os preços dos grãos

Ocorrência do fenômeno climático resultaria em patamares de preços ainda menores para a soja e para o milho, projeta INTL FCStoneEm cenário de estoques folgados, a ocorrência do El Niño significaria queda ainda maior no patamar de preços das commodities. De acordo com estudo da INTL FCStone, o fenômeno tende a ser favorável à produção de grãos nos EUA, no Brasil e na Argentina.

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Os Estados Unidos, país que possui as maiores produções mundiais de soja e milho, respondem por 34% e 36,2% da produção global, respectivamente. Considerando a ocorrência de feitos climáticos moderados do El Niño, o país registraria grande impacto absoluto na produção, com efeito positivo sobre a safra.

– O El Niño vai levar os preços da soja bem mais para baixo. O fenômeno climático diminui o risco de secas muito prolongadas durante os meses de junho e julho, com volume de precipitações adequado ao desenvolvimento da safra – explica analista INTL FCStone Natalia Orlovicin.

As maiores regiões produtoras das commodities no Brasil seriam impactadas com uma ocorrência maior de chuvas ao longo do ciclo de verão, garantindo umidade suficiente e evitando secas localizadas.

Entretanto, dependendo da intensidade do fenômeno, as chuvas poderiam acabar sendo excessivas no Rio Grande do Sul, por exemplo. Efeito semelhante seria verificado na Argentina, cujos impactos acompanhariam a abundância de chuvas da região sul no Brasil.

Já no caso da segunda safra de milho, cultivada no inverno, em períodos cuja ocorrência de chuvas tende a ser mais reduzida, o fenômeno climático traria um maior volume de chuvas e temperaturas um pouco mais elevadas, afastando o risco de geadas precoces.

Alta

Na contramão da previsão da INTL FCStone, a analista de commodities do Business Monitor International Aurélia Britsch afirma que o El Niño deve dar suporte aos preços, que estão enfraquecidos há vários anos, pondendo facilmente avançar com as preocupações meteorológicas. 

Os preços de várias commodities agrícolas saltaram este mês sustentados pelos alertas, assim como as ações dos produtores de óleo de palma como Golden Agri-Resources e Wilmar International também subiram. 

Preparativos

Os diversos alertas sobre a possibilidade de ocorrência do fenômeno El Niño está levando alguns países a se prepararem para os impactos. 

As Filipinas informaram na semana passada que vão importar 500 mil toneladas de arroz. O governo projeta que a colheita de arroz deste ano fique aquém da meta de 20,1 milhões de toneladas. Na Índia, o El Niño interfere na estação de monções do país, que terá início em junho, e pode provocar chuvas abaixo da média, elevando o risco de alta para os preços dos alimentos no segundo semestre do ano, afirmou o HSBC em nota.

O fenômeno El Niño é caracterizado por aquecimento nas regiões centrais e leste do Oceano Pacífico e arrefecimento na parte ocidental. Isso leva a uma mudança nos padrões climáticos, incluindo maiores chance de seca em importantes áreas de produção agrícola, como a Austrália e Sudeste Asiático. A última ocorrência do fenômeno foi entre 2009 e 2010.

Durante a última ocorrência de El Niño, os preços do açúcar subiram para máximas de 30 anos, enquanto os preços dos futuros de óleo de palma (CPO, na sigla em inglês) chegaram perto de 4 ringgits por tonelada, quase o dobro dos valores atuais.