O Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acendeu um alerta na multinacional Japan Tobacco International (JTI). À época do levantamento, mais de 47% das crianças e adolescentes de Arroio do Tigre (RS) trabalhavam.
Para combater o uso de mão-de-obra infantil e reduzir a vulnerabilidade social no município, a empresa investiu em uma agroindústria que será gerida por agricultoras locais. A ideia surgiu de conversas com mães de alunos das escolas onde o programa Arise — iniciativa da JTI — ministra cursos no contraturno.
“O Arise entende que elevar a renda das famílias é essencial para combater o trabalho infantil em regiões com maior vulnerabilidade social”, afirma a supervisora de Projetos Sociais da JTI, Marinês Kittel. Ao total, 13 mulheres integram o projeto e vão se revezar por turnos para mantê-lo funcionando.
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Protagonismo e superação
A expectativa com a inauguração da Delícias da Colônia, nesta sexta-feira, 18, é grande. Leila Mara da Silva Brum, que preside a associação gestora da agroindústria, está ansiosa com os resultados. “Foi uma longa caminhada para nós e todos os envolvidos nesse projeto. Agora, nosso objetivo é colocar ela pra funcionar, conseguir uma boa clientela e gerar renda para todas as famílias envolvidas”, afirma.
Nesse primeiro momento, serão produzidos biscoitos e bolachas e, posteriormente, a produção será ampliada de acordo com a vontade das participantes.
“Essas mulheres estão assumindo o protagonismo de uma iniciativa que tem impacto direto em suas vidas, sendo responsáveis por seu próprio empreendimento, atuando na produção, administração e comercialização dos produtos”, afirma Marinês Kittel.
Trabalho em grupo
De acordo com a JTI, criar a agroindústria só foi possível com a ajuda de parceiros. O terreno, por exemplo, foi doado por uma família que reside no distrito de Coloninha. “Meu pai, Warno Henrique Hubner, já falecido, sempre se preocupou muito com as pessoas que moram aqui, buscando contribuir com iniciativas para melhorar a região. Por isso, quando surgiu a proposta da agroindústria, minha mãe, Sybilla, conversou comigo e minhas irmãs e decidimos ceder o terreno”, conta Neusa Hubner de Castro, que também integra o projeto.
A construção do prédio, instalação, adequação, compra de equipamentos, insumos para produção e treinamentos foram custeados pela JTI, com a assessoria técnica da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A Emater também dá suporte às mulheres na criação das receitas dos produtos, compra de insumos, testagem, padronização, gestão e boas práticas de produção. Além disso, o projeto contou com o apoio da prefeitura de Arroio do Tigre, que auxiliou a realizar o cercamento, a melhorar os acessos e a trazer energia trifásica para o local.
Outra parceira é a empresa Renove Jr., do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ela será responsável pela avaliação de impacto socioeconômico da iniciativa e por oferecer suporte e treinamento para as mulheres na realização do plano de marketing dos produtos. “A gente vê que elas acreditam muito no negócio e nós queremos contribuir com essa jornada para que dê certo”, afirma Jéssica Vieira, estudante de engenharia civil.