A mudança no calendário do vazio sanitário em Mato Grosso, que agora será de 1° de junho a 30 de setembro, está gerando divergências na cadeia produtiva do maior Estado produtor de soja do país. O principal motivo é que ainda será permitido o cultivo da segunda safra de soja, o que pode contribuir para a perda de eficiência dos principais produtos contra a ferrugem asiática. Segundo o coordenador de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, isso poderá ser um risco para toda produção brasileira.
Esta foi a segunda mudança no vazio sanitário em Mato Grosso em menos de dois meses. Em 22 de outubro, o Instituto de Defesa Agropecuária estadual (Indea-MT) determinou que o período seria de 1º de maio até 15 de setembro. A nova data foi publicada em 30 de dezembro de 2014.
Já o diretor técnico da Aprosoja-MT, Nery Ribas, diz ser favorável ao vazio sanitário e à nova mudança na data de vigência. A associação considera importante que o produtor tenha o direito de cultivar suas próprias sementes, o que não seria viável com o período de maio até setembro, segundo ele.
Ribas ressalta que essa produção deve ser feita desde que seja seguida a recomendação de não plantar soja sobre soja, utilizando-se uma área da propriedade que não tenha sido cultivada com a oleaginosa.
– O importante é estar definido que o produtor precisa fazer a alternância de culturas, como já vem sendo recomendado. O sojicultor tem o direito assegurado de produzir suas sementes. Não é apenas na questão de preço, mas sim, de qualidade – reforça.
Guerra lembra que existem nove meses em que é permitido plantar soja no Estado. Segundo ele, esse período representa risco de proliferação de doenças como a ferrugem asiática, agravada pela produção de sementes durante a segunda safra.
– Nós não estamos dizendo que o produtor não pode produzir sementes, mas estamos calculando o risco que isso pode causar, como a perda de produtividade – pontua.
O coordenador do Mapa afirma que os fungicidas usados nas lavouras de soja perderam eficiência. Hoje, segundo ele, existem apenas seis produtos com efetividade contra a doença. Guerra lembra que pesquisas indicam que não existirão novos princípios ativos contra a ferrugem em até cinco anos. Também destaca que é preciso de uma intervenção do Ministério da Agricultura para reabrir a discussão sobre o uso desses produtos.
– Os produtos perderam drasticamente a essência. Só existem seis que ainda tem alguma eficiência e 90% dos produtores estão usando massivamente. Se continuar assim, vamos duplicar as chances desses fungicidas perderem a ação. Muitas pesquisas mostram a perda na eficiência e, consequentemente, na produtividade. É isso que estamos questionando e que precisamos resolver logo – salienta.
Para o especialista José Tadashi, pesquisador que viabilizou a introdução do vazio sanitário no Brasil, o período sem plantas vivas de soja nas lavouras foi uma imposição necessária para a sobrevivência da produção de soja no país. Ele destaca que obtenção de sementes de soja durante a segunda safra é um grande risco para o produtor.
O pesquisador orienta que a melhor alternativa é produzir sementes durante a safra de verão, usando 4% da lavoura, para evitar a proliferação da ferrugem com uma segunda safra. Na opinião de Tadashi, a perda na eficiência dos fungicidas pode ser uma ameaça à sobrevivência da cultura de soja no país.