No entanto, os dois maiores Estados produtores de café do país, Minas Gerais e Espírito Santo, enfrentam grandes déficits hídricos à medida que aproxima o final de janeiro, normalmente o mês mais chuvoso do ano para o Sudeste, segundo o painel Reuters Weather Dashboard. Ainda assim, as principais regiões de café e cana foram mais favorecidas pelas chuvas das últimas semanas do que em janeiro de 2014, quando uma seca muito mais intensa levou a uma forte redução de produtividades na safra passada.
Ao longo dos últimos 60 dias, o Espírito Santo, maior produtor de robusta do Brasil, acumulou 118 milímetros, enquanto o normal seria 494 milímetros, segundo o painel de meteorologia do terminal financeiro da Thomson Reuters. Minas Gerais, maior Estado produtor de café do país, recebeu 215 milímetros de chuva nos últimos dois meses, enquanto a média é de 546 milímetros. O instituto de meteorologia Commodities Weather Group, dos Estados Unidos, disse ontem, dia 26, que a metade do cinturão de café e um terço das áreas de cana-de-açúcar têm sofrido com a seca, mas espera que a umidade aumente em 11 a 15 dias.
“Chuvas esparsas na próxima semana e chuvas mais generalizadas no início de fevereiro devem chegar a quase todas as áreas para reduzir qualquer estresse hídrico crescente”, disse o CWG em um relatório diário.
A massa de ar quente que permaneceu sobre as áreas de cultivo do Sudeste por quase três semanas começou a se dissipar cerca de uma semana atrás, permitindo que a entrada de frentes frias e a ocorrência de chuvas.
Chuvas generalizadas e mais intensas têm sido raras
O CWG disse que metade do cinturão do café e 3% das áreas de cana receberam entre 6 e 38 milímetros no fim de semana. A empresa prevê níveis semelhantes de precipitação durante os próximos cinco dias em 60 por cento das áreas de café e 85 por cento das áreas de cana.
Espírito Santo
A Somar Meteorologia alerta para as condições de solo do Estado, consideradas as piores do Brasil. “A água disponível na terra está abaixo de 10%, ou seja, o solo está praticamente seco, o que desfavorece o desenvolvimento das plantas”, informa a Somar. Em algumas áreas, onde deveria ter chovido cerca de 150 milímetros ainda não caiu uma gota de água este ano. E a previsão indica que apenas a partir de fevereiro as chuvas voltarão para o Estado capixaba.
Conforme a Somar, na primeira semana do mês que vem, as chuvas devem alcançar cerca de 30 mm no Espírito Santo, volume insuficiente para recuperar totalmente a umidade do solo, embora traga algum alívio para os produtores rurais. Já entre os dias 5 e 9 de fevereiro, o volume acumulado poderá atingir 70 milímetros, favorecendo a recuperação de lavouras.
O primeiro levantamento da safra de café 2015, cuja colheita se inicia entre abril e maio, mostra que o Brasil deve produzir entre 44,11 milhões e 46,61 milhões de sacas de 60 kg, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desse total, o café conilon deve representar entre 11,61 milhões e 12,21 milhões de sacas. A produção capixaba de conilon está projetada entre 8,52 milhões e 8,96 milhões de sacas.
Segundo a Federação de Agricultura e Pecuária do ES (Faes), em Jaguaré, maior produtor de conilon do Estado, já falta água e, de acordo com o produtor rural, Elder Sossai de Lima, produtores apontam redução de cerca 50% nas lavouras de café.
– A falta de chuva chegou na florada, que é o momento que mais precisamos de água, e perdura agora na granação. Com isso, o grão perderá peso e qualidade – explica Elder.
Segundo o engenheiro agrônomo e superintendente do Cento de Desenvolvimento Tecnológico do Café (CetCaf), Frederico Daher, altas temperaturas também influenciarão a qualidade do café.
– São fatores que interferem na massa do café, alterando o tamanho e peso – pontua.