As estudantes de colégio rural Fernanda Barbosa e Lorena Capetti estudam juntas desde a primeira série. Com objetivos parecidos, cada uma já escolheu o caminho que irá seguir.
? Pretendo me preparar para entrar numa universidade federal ? conta Lorena.
? Eu pretendo fazer administração, arrumar emprego e começar a vida, e aí sim, pagar a faculdade de agronomia caso eu não consiga uma bolsa ? comenta Fernanda.
A principal reclamação dos jovens é de que falta infraestrutura nas escolas da zona rural. E quando ela existe esbarra em outros problemas. Em uma das escolas, os computadores ainda não foram ligados neste ano porque falta um professor substituto para orientar os alunos.
? A gente tinha que dispor de um refeitório, de salas temáticas e de uma quadra poliesportiva ? desabafa Fernanda.
Para compensar o que falta, a diretora convida profissionais de diferentes áreas para trocar experiências com os alunos.
? Nós não fazemos questão nenhuma que esses alunos fiquem engessados e só enxerguem o campo. O campo é uma das possibilidades, mas ele também pode ser inserido com tranquilidade no meio urbano e na sociedade como um todo. Se nós passarmos para eles que porque são do campo devem permanecer nele, estaremos praticando discriminação ? informa a professora Alcemira Gasperrini.
É para formar professores com uma visão ampla sobre o ensino rural que a Universidade de Brasília oferece a Licenciatura para Educação no Campo. O curso começou em 2007, e a primeira turma se forma em maio deste ano.
? Nossa vontade é que as escolas rurais comecem a se transformar, que essas crianças que estão entrando nas escolas rurais possam encontrar professores que ampliem o horizonte de vida dessa divisão cultural, de visão social dessas novas gerações que vão surgir ? explica a professora da Universidade, Laís Mourão.
O aluno e agricultor Janderson do Santos precisou provar vínculo com meio rural antes de prestar o vestibular, pois metade das aulas são práticas.
? Eu posso ficar no assentamento, continuar trabalhando na terra, continuar minha vivência no campo e estudando ao mesmo tempo. Esse sistema de alternâncias favorece quem é do campo estar na universidade ? diz.
Ele conta que a experiência de vida foi decisiva na escolha por ensinar.
? Muitos dos professores que estão na zona rural são professores que não são da zona rural. Muitas vezes não vivem na zona rural e não conhecem a realidade desse local. Vêm muitos professores da cidade e nós podemos mudar essa realidade ? conclui.
Enquanto o campo não forma seus próprios professores, os estudantes se adaptam.
? Quando a pessoa quer, ela pode estudar e ir em busca mesmo com os obstáculos ? comenta a estudante Lorena.
? Talvez o diferencial seja que eles têm que buscar mais, têm que mostrar três vezes mais que são melhores que os outros para poder conseguir o mesmo caminho que os demais ? informa a professora Alcemira.