O barateamento da energia eólica está entre os principais motivos para explicar a situação complicada das termelétricas. No último leilão, realizado em junho, o megawatt/hora (MW/h) da eletricidade gerada a partir do vento fechou em R$ 99,54. Pela primeira vez na história, o valor ficou abaixo das outras fontes. Para se ter ideia do quanto esta fonte ganhou competitividade, no ano passado, ela foi vendida por R$ 130. Hoje, está mais barata do que os R$ 103,11 pagos pelo MW/h das hidrelétrica e dos R$ 103,26 da térmica.
Para completar o cenário desfavorável à Usitesc, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), braço estatal que faz o planejamento brasileiro, informou que nos próximos leilões vai adquirir somente fontes renováveis ? hidrelétrica, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), biomassa e eólica. Nada de carvão.
Em um leilão, vital para qualquer usina, o governo informa qual tipo de energia vai comprar e fixa um preço mínimo. A entrega é estipulada num prazo futuro. O leilão ocorrido em junho, por exemplo, prevê entrega em 2014. As empresas interessadas precisam provar que têm capacidade de cumprir o contrato e apresentar as propostas. Vence o melhor preço.
Os responsáveis pelo projeto de Treviso tentam reverter a situação. A iniciativa da região Sul é compreensível, porque a usina terá capacidade de produzir 440 MW (a Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, produz 756 MW) e vai consumir 2,5 milhões de toneladas de carvão. Isto significa que a compra desta matéria-prima vai dobrar.
O diretor da Usitesc, Caioá Gomes, é um dos cabeças da mobilização e diz que há empenho de políticos catarinenses e gaúchos, também donos de reservas de carvão. Na última quarta, as bancadas dos dois Estados em Brasília entregaram um documento ao ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, pedindo mudanças nas regras do leilão de energia que será realizado em dezembro. Os parlamentares querem a inclusão do carvão. De acordo com a assessoria de imprensa do deputado federal Edinho Bez (PMDB-SC), líder da bancada catarinense, haverá uma reunião quando a presidente Dilma Rousseff tomar uma posição sobre o assunto.
Caioá afirma que, com o crescimento econômico, o Brasil vai precisar de energia. Ele acredita que, num prazo de dois anos, o carvão voltará aos editais dos leilões. Cada rodada de compra serve para garantir fornecimento de acordo com a previsão de aumento no consumo. A última compra, em agosto, se referia a projetos que funcionarão a partir de 2013. Mas a EPE escreveu, no Plano Decenal de Expansão, estudo que planeja a matriz energética até 2020, que a prioridade são energias renováveis.