Atualmente, os EUA disponibilizam US$ 600 milhões aos produtores de algodão. A intenção do governo é reduzir o valor a R$ 450 milhões, mantendo, no entanto, programas que asseguram a renda dos agricultores. O ponto polêmico é a possibilidade do valor do subsídio aumentar de acordo com as oscilações do mercado. O pacote prevê injeção de recursos em caráter de exceção, que podem chegar a US$ 1,8 bilhão.
— Eles acreditam que estão reduzindo o programa de subsídios, mas estão criando uma rede de proteção de preços e renda ao produtor, que está sendo proposto com níveis muito elevados — avalia o diretor do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Haroldo Cunha.
Para Cunha, a proteção do país pode incentivar os produtores norte-americanos a aumentarem sua área ou a continuarem na atividade, já que o governo oferece garantia de renda. Esse cenário tem reflexos no mercado internacional.
O pacote vai contra a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) no contencioso do algodão, do qual o Brasil saiu vitorioso em 2010. Na época, o Brasil foi autorizado a retaliar os Estados Unidos por conta do excesso de subsídios oferecidos pelo governo norte-americano à produção interna. Como resultado, um acordo estabeleceu que o país da América do Norte deve pagar US$ 12 milhões mensais, até 2012, ao IBA.
Cunha explica que, se o pacote for promulgado neste ano, o acordo cai, e os pagamentos ao IBA são, consequentemente, interrompidos.
— Será um embate muito duro, em ano de eleição, com crise financeira. Os Estados Unidos tem muito mais tendência a atender a demanda interna do que se submeter à demanda externa — afirma o especialista em Relações Internacionais, Rafael Duarte.
A expectativa é de que o tema esteja na pauta do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e o chefe de Estado norte-americano Barack Obama, marcado para abril, na Casa Branca. Dilma também vai tratar de outros itens do comércio bilateral entre os dois países, como a ampliação das vendas de carne suína para o mercado norte-americano.