A pandemia de coronavírus expõe a dificuldade do Brasil para garantir crédito a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). A opinião é do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano. Ele participou nesta terça-feira, 16, de uma audiência pública remota promovida pela comissão mista que acompanha as medidas do governo federal para o enfrentamento da Covid-19.
“A questão de acesso ao crédito para micro, pequena e média empresa no Brasil não é algo oriundo da crise. A crise só externalizou. Saltou aos nossos olhos como a gente precisa trabalhar mais e ter mais medidas e ações estruturantes que viabilizem o crédito para esse segmento empresarial, que gera tanto emprego”, disse Montezano.
Montezano destacou algumas ações do BNDES em favor das MPMEs durante a pandemia. A primeira delas é o crédito para financiar até dois meses da folha de pagamento de pequenas e médias empresas. Dos R$ 8,5 bilhões disponíveis do Tesouro Nacional e de bancos de varejo, R$ 3,3 bilhões foram contratados. A estimativa é de que a medida tenha contribuído para a preservação de 1,4 milhão de empregos.
Outra ação para o enfrentamento da pandemia é a oferta de crédito rápido e flexível para capital de giro. Dos R$ 5 bilhões aportados, R$ 3,5 bilhões foram contratados em mais de 11 mil operações. Gustavo Montezano destacou também a suspensão de pagamentos de financiamentos já contratados por até seis meses. Dos R$ 7,1 bilhões previstos, o banco negociou a suspensão de R$ 3 bilhões em contratos de mais de 28 mil empresas.
O BNDES transferiu também R$ 20 bilhões para reforçar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e assegurar a implementação da medida provisória 946/2000. A matéria autoriza os trabalhadores a sacarem até R$ 1.045 entre 15 de junho e 31 de dezembro deste ano. O banco aportou ainda R$ 4 bilhões a dez fundos de crédito para MPMEs.
Grandes empresas
O presidente do BNDES ressaltou que as empresas de grande porte “estão conseguindo se arrumar e pagar suas contas” durante a pandemia. Apesar disso, o banco desenvolveu alguns produtos para atender “alguns setores específicos”, entre eles o da saúde.
O destaque é para o crédito emergencial de R$ 1 bilhão para a ampliação imediata da oferta de leitos e compra de equipamentos médicos e hospitalares. Foram contratados R$ 183,2 milhões para a aquisição de 2.662 novos leitos, 500 mil novos testes rápidos e 1.500 novos monitores.
Gustavo Montezano apresentou também um modelo de crowdfunding (financiamento coletivo), em que o BNDES dobra o valor doado pela sociedade ou por empresas para o enfrentamento à pandemia. Dos R$ 100 milhões que o banco destina a essa modalidade, foram arrecadados R$ 16 milhões para compra de material, insumos e equipamento de proteção para hospitais filantrópicos.
Ainda no segmento de grandes empresas, o BNDES suspendeu o pagamento de financiamentos já contratados por até seis meses. Dos R$ 18 bilhões previstos, foram suspensos R$ 7,3 bilhões referentes a mais de 650 contratos.
Está em fase de implantação uma linha de crédito de até R$ 3 bilhões ao setor sucroalcooleiro. O BNDES entra com a metade desse valor, enquanto bancos privados complementam a diferença. O dinheiro será usado na estocagem de etanol para preservar a estrutura da cadeia produtiva.
“Quanto mais produtos diferentes, melhor. O que está acontecendo hoje no Brasil e no mundo é algo novo, nunca antes visto. A gente está experimentando e aprendendo fazendo. Quanto mais produtos, que operem com tecnologia diferente, tenham abordagem de risco diferente e contem com operador diferente, mais chance de sucesso a gente vai ter. Essa pluralidade de produtos tem que ser vista com bons olhos, não com olhar de questionamento”, afirmou.