O Pantanal mato-grossense se tornou um ponto turístico bastante popular. Brasileiros e estrangeiros costumam ir à região para pescar ou se aventurar em passeios ecológicos. Mas a natureza não é a única atração: uma festa tradicional com direito a encenações de torneios medievais tem atraído muitos visitantes.
A cavalhada chegou a Mato Grosso em meados de 1769 e se instalou em Poconé (MT). Originalmente, a celebração era o momento da aristocracia exibir sua destreza e coragem em espetáculos públicos. Além disso, também eram relembradas e encenadas as disputas entre cristãos e mouros, que aconteceram quando o exército muçulmano tentou invadir a França, depois de conquistar Portugal e Espanha.
Considerado Patrimônio Imaterial da Cultura Pantaneira, o evento acontece sempre em junho, durante a Festa de São Benedito. De acordo com o secretário adjunto de Cultura do estado, José Paulo Trave, a cavalhada movimenta os setores hoteleiro e gastronômico, gerando empregos e renda. “É um momento maravilhoso, tradicionalíssimo, e a gente precisa se esforçar para manter essas raízes e essa tradição”, defende.
De 1956 a 1990, a tradição foi deixada de lado. Graças às ações de moradores locais, ela foi retomada. “Em uma festa cultural como essa, temos a oportunidade de mostrar para todo o mundo a potência de Poconé, através da nossa rica cultura, do nosso cavalo pantaneiro em integração com nossas propriedades rurais”, ressalta o presidente do sindicato rural do município, Alindo Márcio Morais.
Segundo um dos organizadores do evento Antônio Diógenes de Carvalho, a comunidade também aproveita o momento para promover boas ações. “No ano passado, fizemos uma ação e levantamos recursos para uma cirurgia de coluna. Este ano, queremos ajudar uma menina a fazer uma cirurgia nos olhos. Vamos transformar estas ajudas em uma tradição também”, diz.
O resgate da rainha
A encenação começa com a entrada dos exércitos dos mouros (vestidos de vermelho) e cristãos (de azul). Cada exército é composto por 12 cavaleiros e seus respectivos ajudantes.
A batalha começa com o sequestro da rainha moura pelos cristãos, no ano de 732, com o objetivo de converter o povo ao cristianismo em troca da soltura da líder. Mas o plano não deu muito certo e desencadeou uma guerra entre os povos.
A partir daí, os cavaleiros iniciam uma série de provas de argolas, arcos, bastões e bandeiras, que exigem dos intérpretes destreza e velocidade.
Amor que atravessa gerações
Evaristo Flumêncio da Silva é um “poconeano de chapa e cruz”, como se orgulha em dizer, e fez parte do exército mouro durante 23 anos. Hoje, aos 64 anos, ele só acompanha as festividades. “Durante uma semana, a gente esquece os afazeres para se dedicar somente à cavalhada. Todos em casa participam! Minha esposa faz os bonecos, é uma paixão. Das minhas três filhas, duas já foram rainhas”, conta.
O orgulho e paixão pela festividade é tanta que dificilmente um poconeano não transmite para seus filhos a tradição. Leonardo Campos, que hoje atua como capataz na encenação, explica por quê fica arrepiado só de pensar na arena: “Meu pai foi cavaleiro e eu o sucedi. Hoje, meu irmão está na cavalhada e já passou a tradição para o meu sobrinho. Essa é uma cultura passada de pai para filho, neto e bisneto, para nunca acabar”, afirma, emocionado.