Cobrança extra acontece se média produtiva exceder 50 sacas por hectare. Empresa afirma que se o produtor avisar sobre incremento antes da colheita, não precisa pagar paga
Roberta Silveira, do Paraguai
Na série especial sobre os royalties da Intacta, foi mostrado que o produtor brasileiro paga bem mais pela tecnologia do que seus vizinhos e que os argentinos não são obrigados a arcar com a taxa nas sementes salvas. Nesta terceira e última reportagem, será apresentada a realidade paraguaia: por lá quem tem produtividade mais alta que 50 sacas por hectare, acaba pagando mais.
O Paraguai produziu mais de dez milhões de toneladas de soja na safra 2016/2017. Pela primeira vez, a produtividade média das lavouras foi superior a 50 sacas por hectare. Os produtores dizem que o clima colaborou para o aumento da produção. “Tivemos um clima excelente para a soja. O resultado foi uma superprodução, nunca vista antes. Nunca se pensou que o Paraguai poderia superar os 3 mil quilos por hectare. Isto é surpreendente.”, diz o vice-presidente da Unión de Gremios de la Producción, Milton Abich, que é brasileiro.
Como é feito o pagamento
Assim como na Argentina e no Brasil os produtores paraguaios tem duas opções para realizar o pagamento. Diretamente na compra das sementes, ou na moega.
No Paraguai, quem deixa para pagar o royalty, na entrega do produto na moega paga mais caro, chegando a US$ 16 por tonelada. Contra US$ 15 por tonelada na Argentina e mais de US$ 20 por tonelada no Brasil.
Mas, quem paga a taxa ao comprar a semente, também pode estar se metendo em uma roubada. Na safra 2016/2017, os paraguaios pagaram um valor entre US$21 e US$25 por hectare. Na Argentina o valor foi de US$ 16,20 e no Brasil US$ 40 por hectare. “Este valor variável é onde mora o perigo. Quem plantou Intacta neste ano, acabou recebendo uma cobrança extra na moega”, conta Abich.
Problemas para quem produz mais de 50 sacas por hectare
Para entender esta história, os produtores paraguaios que pagaram o royalty na compra da semente Intacta, nesta safra, reclamam de uma cobrança adicional na hora de entregar a produção na moega. Justamente, porque o volume entregue era maior que três toneladas por hectare. Eles consideram esta cobrança injusta, afinal todas as variedades de soja produziram muito bem nesta temporada.
Os produtores paraguaios pagaram os tais US$ 21 por hectare de royalty quando compraram as sementes. Mas, a boa produtividade trouxe, ao invés de felicidade e rentabilidade, um valor adicional de cobrança. No final, o valor pago a Monsanto subiu para US$ 25 por hectare.
O produtor brasileiro que vive no Paraguai, Jackson Bressan, afirma que pagou o royalty na saca de semente, mas que também foi cobrado na moega, mesmo após uma promessa da empresa de não cobrar a mais por isso.“Se o valor subir assim ficará complicado. Além de ter pago na semente, depois ter que pagar mais por uma questão que eles não seguiram. Uma promessa que não foi cumprida, aí a gente fica sentido. Tanto é que este ano eu plantei 40% da área de Intacta e 60% RR1, mas se isso não mudar vou plantar 100% de RR1, no próximo ano”, garante Bressan.
De acordo com a empresa detentora da tecnologia, os produtores que comunicaram que a colheita seria maior, com antecedência, não foram cobrados na moega. “O que queremos este ano é esta antecipação na comunicação, para que o agricultor não tenha dificuldade de saber para ligar, qual canal acessar, ou como fazer para ter acesso a este volume sem custo”, explica Malu Nachreiner, gerente de negócios de soja Monsanto Brasil.
Valor pago gera insatisfação
A exemplo do Brasil, os paraguaios já pagam royalty há bastante tempo. Primeiro pela tecnologia da RR1 e agora com a Intacta. Mas, a cobrança ainda gera reclamação. “Na época da RR1, a Monsanto cobrava diretamente no silo. Na hora de você faturar o produto, eles cobravam US$ 5 por tonelada. Acho que o caso da RR2 deveria ser do mesmo jeito. Aí todo mundo vai plantar porque não é uma quantia absurda”, destaca o produtor Bressan.
O presidente da Unión de Gremios de la Producción concorda com Tarka de que uma cobrança mais branda traria benefícios a todos. “Aqui não se discute a necessidade de pagar o royalty. Mas sim, a forma e o valor. Podemos discutir isso outra vez até encontrar um ponto de equilíbrio”, finaliza Hector Cristaldo.