Estado apresentou inóculos da doença mais cedo que o convencional, o que deve antecipar o surgimento da ferrugem asiática no estado
Manaíra Lacerda | Castro (PR)
O Paraná foi o estado que mais registrou casos de ferrugem asiática em soja voluntária no mês de setembro, segundo o Consórcio Antiferrugem. Neste cenário de inverno menos rigoroso e El Niño, a doença pode aparecer mais cedo nesta safra. A Fundação ABC, de Castro, estima que o ataque do fungo pode ocorrer até dois meses antes que o normal.
Nas estradas e rodovias do Paraná não é raro encontrar a soja guaxa (ou tiguera), aquela que nasce voluntariamente de grão perdidos durante o transporte na colheita anterior. Tem planta com mais de dois meses que estão abrigando a ferrugem asiática, que pode ser levada pelo vento para as propriedades da região.
• Safra começa com mais pressão da ferrugem asiática
Segundo o coordenador de Fitopatologia da Fundação ABC, Carlos André Schipanski, a atuação do El Niño tem provocado mais chuvas. Por conta disso, a soja voluntária se desenvolveu mais rápido e pode atingir as lavouras paranaenses mais cedo do que de costume.
– A característica do El Niño no inverno é a frequência menor de geadas, que foi exatamente o que acontece neste ano. O papel da geada é eliminar essa soja, o que não aconteceu. Nós estamos com a expectativa que a ferrugem antecipe um pouco, já devem ocorrer no período vegetativo, no mês de outubro e novembro. Isso é diferente de anos normais, quando as primeiras ocorrências são no fim de dezembro e início de janeiro – explica.
Durante o vazio sanitário, a responsabilidade de eliminar as plantas nas propriedades é do agricultor, mas quando o problema é da porteira para fora, o controle é mais difícil.
– É obrigação do produtor eliminar a soja guaxa dentro da propriedade e seria desejável que fizesse nos arredores também. Nas áreas públicas, beiras de rodovia, que com o escoamento a soja acaba caindo e nascendo, não tem legislação. É uma deficiência não determinar quem é responsável por essa soja guaxa – afirma o pesquisador da Fundação ABC Alan Vaz.
Para evitar complicações com o fungo, o produtor rural Arthur Kassis é um dos agricultores que trabalha com prevenção. A família dele cultiva soja há 40 anos e nunca teve prejuízos com a ferrugem.
– O agricultor sempre está preocupado com a produtividade, com a qualidade. Então ele busca fazer aplicações preventivas de fungicidas. Em anos mais tranquilos, faz três aplicações. Quando a pressão é maior, chega a fazer cinco aplicações, aumentando o custo e complicando para ele um pouco – argumenta Kassis.
Ocorrências em setembro
De acordo com o Consórcio Antiferrugem, em setembro foram registrados 13 focos de ferrugem asiática no país. Dois em Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo. No Paraná, foram sete registros.
A doença apareceu em Venceslau Brás, Arapoti, Castro, Palotina, Santana do Itararé, Tibagi e Ventania. No mesmo período do ano passado não existiam focos no estado. O primeiro relato foi em novembro de 2014.
Ferrugem na safra 2015/2016
Até o momento, são 28 casos de ferrugem relatados. O Rio Grande do Sul tem 15 registros (Passo Fundo, Ibirubá, Não-Me-Toque, Colorado, Ijuí, Santa Rosa, Cruz Alta, Ipiranga do Sul, Erebango, Coxilha, Cachoeira do Sul, Capão do Leão, Ibirapuitã, Bozano e Nova Boa Vista), o Paraná aparece em segundo com sete casos.
Mato Grosso (Primavera do Leste e Campo Novo do Parecis), São Paulo (Buri e Taquarituba) têm duas ocorrências. Tocantins (Lagoa da Confusão) e Santa Catarina (São Carlos) com um com um foco cada.
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