A Embrapa Instrumentação (São Carlos -SP) e a Fundação Coopercitrus Credicitrus (FCC) uniram esforços para implementar um projeto de pesquisa, visando equilibrar a produção agrícola com a preservação ambiental. Para isso, assinaram um acordo que contempla a realização de ações diversificadas em saneamento básico rural na área da FCC, em Bebedouro (SP), como instalação de tecnologias e estudos sobre o reuso de biofertilizante na citricultura.
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Firmado em janeiro deste ano, a cooperação técnica envolve a utilização de duas soluções tecnológicas, já consolidadas no país, e alicerçadas nos critérios de sustentabilidade, baixo custo, fácil aplicação e replicabilidade, que caracterizam a Fossa Séptica Biodigestora e o Jardim Filtrante. Desenvolvida pela Embrapa Instrumentação, a primeira tecnologia é destinada ao tratamento do esgoto do vaso sanitário, enquanto a segunda foi adaptada para despoluir águas residuárias ou águas cinza, oriundas de pias, chuveiros e tanques.
O sistema de Fossa Séptica Biodigestora, composto de tanques sequenciais de fermentação anaeróbia, com mais de 20 anos de benefícios gerados à população rural, deverá receber e tratar o esgoto produzido por pessoas que residem, trabalham, ou utilizam as instalações de quatro setores da Fundação Coopercitrus Credicitrus. Adicionalmente, outras tecnologias de tratamento poderão ser adotadas onde a Fossa Séptica Biodigestora não puder ser utilizada, já que diferentes configurações de rede de esgoto são encontradas no local.
Estudos e capacitações
O valor global convencionado para execução da “Pesquisa, desenvolvimento e ações de transferência de tecnologias sociais de saneamento básico rural”, é de um pouco mais de R$1 milhão, porém, sem repasse de recursos de uma parte a outra.
Essa quantia corresponde a gastos com insumos, infraestrutura, pessoal, serviços, materiais e bolsas que as instituições vão suportar diretamente com a participação no projeto. Com prazo de execução em 36 meses, o projeto vai desenvolver estudos visando à elaboração de protocolos para reúso do efluente do esgoto tratado em áreas de citricultura e agricultura familiar.
De acordo com o pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva, responsável pelo projeto da Embrapa Instrumentação, explica que serão realizados ensaios agronômicos de reúso do biofertilizante em citricultura, visando a fertirrigação, a exemplo de experimentos já desenvolvidos em cultura de milho em São Carlos (SP). Para que isto ocorra, o pesquisador explica que todos os efluentes a serem utilizados nos ensaios, serão caracterizados química e microbiologicamente, para melhor eficiência de uso e segurança na aplicação.
“A proposta com isso é aumentar o ciclo de vida da água e de nutrientes com segurança ao trabalhador, ao alimento e ao meio ambiente. Experimentos anteriores realizados pela Embrapa e textos internacionais, mostram que isso é perfeitamente possível. Um protocolo de manejo para citros será uma das entregas do projeto”, relata.
Vitrine tecnológica
Outro objetivo da cooperação é a capacitação de agentes multiplicadores em saneamento básico rural, visando à formação de recursos humanos no tema e futura promoção de políticas públicas. As capacitações serão realizadas na Fundação Coopercitrus Credicitrus uma vez por ano e envolvem entre 50 a 70 pessoas, entre empregados da FCC, produtores e extensionistas.
“As instalações do sistema de saneamento na Fundação Coopercitrus Credicitrus também devem ser utilizadas como unidades demonstrativas de boas práticas sanitárias, para cooperados e demais interessados”, adianta o pesquisador.
Doutor em Química Analítica pela Universidade de São Paulo e com passagem pela Université de Nantes (França), Wilson Tadeu diz que estão previstos estudos sobre os resíduos resultantes da lavagem de equipamentos utilizados na aplicação de defensivos agrícolas.
“A partir deste estudo, com o conhecimento da concentração e principais classes de resíduos de pesticidas, será elaborada uma proposta de sistema de tratamento. Será levado em consideração a eficiência de remoção, além da simplicidade operacional e custos de manutenção, tendo como primeira opção, o uso de áreas alagadas construídas, no formato de um Jardim Filtrante”, avalia o pesquisador.
O superintendente da FCC, Oscar Franco Filho, diz que não há dúvidas da relevância do projeto para a saúde e bem-estar das pessoas que vivem no campo e para a proteção e preservação do meio ambiente. “Objetivamos a prevenção de doenças, o abastecimento de água potável e o sistema de tratamento do esgoto, além da gestão adequada dos resíduos sólidos, contribuindo assim, para a qualidade e produtividade da produção agropecuária. Nossa proposta é também disseminar o resultado desta tecnologia aos cooperados da Coopercitrus, Credicitrus e demais agricultores interessados”, acrescenta.
Simplicidade e eficiência
A Fossa Séptica Biodigestora é uma tecnologia social simples, de fácil instalação, destinada ao tratamento do esgoto sanitário, de forma eficiente, em propriedades rurais e áreas isoladas. A tecnologia foi reconhecida com o Prêmio da Fundação Banco do Brasil em 2003 e já beneficiou quase 60 mil pessoas com a instalação de 12 mil unidades em 260 municípios nas cinco regiões do Brasil, desde que foi criada em 2001.
O sistema de saneamento básico rural também é composto do Jardim Filtrante, um pequeno lago impermeabilizado, que contém pedras, areia e plantas aquáticas. É de fácil manutenção e é destinado ao tratamento do esgoto proveniente de pias, tanques e chuveiros, ricos em sabões, detergentes, restos de alimentos e gorduras — a chamada “água cinza”. A tecnologia foi adaptada pela Embrapa para complementar o uso da Fossa Séptica Biodigestora e do Clorador Embrapa.