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Agricultura

Veja passo a passo como transformar uma produção convencional em agroflorestal

Ayrton Péres, da Fazenda Amigos do Cerrado, conta como fez para que a propriedade herdada do pai virasse um exemplo de produção sustentável

Planejamento. Essa foi uma das primeiras palavras que ouvi saindo da boca do produtor rural e médico Ayrton Péres, 73 anos, da Ponte Alta do Gama, no Distrito Federal. Ele é um dos idealizadores da Fazenda Amigos do Cerrado que, há cerca de 20 anos tem transformado o plantio convencional em um sistema altamente sustentável e, cada vez mais, rentável.

A área pertencente ao pai de Ayrton, Alberto Péres, cultivava tomates desde a década de 1980 e, em determinado momento, também criava vacas leiteiras. Ao assumir a fazenda, Ayrton continuou com o cultivo, se dedicando ao milho e à mandioca, mas em conversas com o filho mais velho, Kiko Péres – que também é guitarrista da banda Natiruts – entendeu que era o momento de mudar.

Família Péres da fazenda Amigos do Cerrado
Da esquerda para a direita: Ayrton Péres, Pedro (Gerente), Alberto Péres e Kiko Péres. Foto: Divulgação


“Após consultas e pesquisas, decidimos trabalhar o Sistema Agroflorestal, que nos pareceu muito adequado para o que queríamos. Afinal, tínhamos em mente de que não bastava apenas tomar ações visando o meio ambiente se não cuidássemos também da viabilidade financeira do empreendimento. E, dessa maneira, buscamos a sustentabilidade do campo e do próprio produtor”, disse

Por onde começar?

Para ‘virar a chave’ do sistema convencional para o agroflorestal, a família Péres procurou ajuda de fazendas que já estavam adiantadas no sistema e que, inclusive, ofereciam cursos de capacitação para produtores rurais. Nesta etapa, o Sítio Semente, de Brasília, ofereceu o suporte necessário para que as ideias começassem a surgir nas conversas de pai e filho.

Plantação de milho na propriedade em 2005. Foto: Divulgação

“Ele foi visitar o Sítio Semente, aqui na região, que iniciava o trabalho de cultivo de folhas e legumes no sistema agroflorestal. Em outra oportunidade, convidei um antigo parceiro do meu pai, Francisco das Chagas, antigo proprietário de uma parcela da nossa área. Saímos de lá impressionados com a lógica e a biodinâmica do plantio de diferentes plantas em um mesmo canteiro, com uma interação que torna o solo mais rico e protegido”, explicou.

Ayrton conta que, com esse amigo, criou em sociedade a empresa Amigos do Cerrado. Em seguida, foi convidado o engenheiro agrônomo especializado em sistema agroflorestal Raul Monteiro Junior para fazer um projeto de agricultura orgânica

Preparo do milho na Fazenda Amigos do Cerrado. Foto: divulgação

“O Raul aprendeu e trabalhou com Ernst Goetsch, um suíço que se instalou na Bahia após deixar o seu trabalho de melhoramento genético para colocar em prática a ideia de que se conseguiria obter melhores condições favoráveis à melhor desenvolvimento das plantas por meio de diversos modos de plantio. Com sua experiência, ele [Raul] contribuiu no cultivo de árvores frutíferas, que decidimos utilizar como carro-chefe”.

Ayrton nos conta que o limão tahiti, juntamente com outras plantas e árvores foram as culturas escolhidas para o novo modelo de negócio da fazenda. “Os benefícios que elas trazem para o sistema, tanto pela matéria orgânica das madeiras em decomposição, tanto como pela interação com outras espécies, aumenta a biodiversidade dos consórcios, incluindo não só espécies de ciclos curtos, mas de todos os estágios de ocupação florestal”, falou.

Sistema agroflorestal já ganhando forma em 2018. Foto: divulgação

Mas, antes de colocar tudo em prática, uma última fase que envolvia treinamento de capacitação para os funcionários e compra de maquinários foi feita. “Com tudo em ordem, iniciamos o projeto piloto com o plantio de limão tahiti, tangerina, mandioca, eucalipto, mogno e banana. Nessa fase, tivemos importante apoio técnico da Emater e continuamos anualmente a aumentar a área, introduzindo novas culturas como a manga, o avocado e o baru”.

A propriedade tem 10 hectares destinados ao plantio agroflorestal. Segundo a família, em dois anos foi obtida a certificação de orgânicos pelo Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac-Cerrado), o que deu ainda mais força para a comercialização dos produtos na região.

Foto: divulgação

Com disciplina e boa estratégia, rapidamente a fazenda começou a, literalmente, colher bons frutos e, com ajuda de entidades especializadas começaram a se abrir para o mercado. “Embora a cultura de cítricos atinja o seu ponto de maturidade com cinco anos, já no terceiro começamos a colher frutos e demos início ao processo de abertura de mercado. Nesta fase, tivemos um importante auxílio do Sebrae, que nos ensinou e ajudou a abrir canais importantes de comercialização, deixando a gente preparado para quando alcançássemos a fase mais produtiva da cultura, que ocorreu entre o 5º e 6º ano”, explicou.

O retorno do filho

Cada vez mais capacitada, a Fazenda Amigos do Cerrado ganhou um reforço na administração para a fase seguinte do projeto de manejo sustentável. O filho de Ayrton, irmão de Kiko Péres, voltou para casa após fazer a especialização em biologia com foco em meio ambiente. “O meu outro filho, Ayrton Junior, retornou de Brasília e integrou-se à equipe. Dividindo com Rodrigo (Kiko) o trabalho de campo, de mercado e controle, que era algo que já nos ocupava bastante”.

Da esquerda para a direita – Pedro, Ayrton Junior e Raul. Foto: Amigos do Cerrado

Com a maturidade das plantas e produção plena, por volta do 6º ano, o equilíbrio financeiro finalmente chegou à fazenda, mas isso não fez a família Péres parar. “Nessa etapa, entendemos que era preciso criar escala e agregar novos valores ao nosso empreendimento, como explorar a produção de sucos  e óleos naturais”, disse o patriarca da família.

A expansão deveria ocorrer naturalmente em 2020, mas a pandemia de Covid-19 mudou os planos da fazenda e, neste início de 2021, o projeto passou por uma revisão e partirá para inovações de ordem agrícola, mecanização da agricultura de precisão e de modelo financeiro. 

Foto: divulgação

“O  financiamento poderá vir por meio de investidores ou por bancos mesmo. Mas a nossa ideia é de ampliar esse modelo sustentável para outras propriedades, oferecendo treinamento e propondo um modelo de cooperativismo. Sabemos que muitos possuem a vontade de usar melhor a terra, mas não conseguem por falta de recursos ou por não dominarem as técnicas e é neste sentido que gostaríamos de ajudar”, finalizou.

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