No município de Dormentes (PE), alguns pecuaristas apelam para o Mandacaru, queimando a planta para alimentar ovinos e bovinos. O milho utilizado para nutrição chegou a ser plantado, mas não resistiu às condições desfavoráveis do clima. Os produtores pedem a venda do cereal a preços acessíveis.
O apelo é feito no momento em que o país comemora uma safrinha com mais de 70 milhões de toneladas do grão. Grande parte em Mato Grosso, onde a produção foi tanta que faltou espaço nos silos. Na esperança de que a oferta alta diminuísse os preços, muitos não fizeram contratos antecipados. A seca nos Estados Unidos, no entanto, valorizou ainda mais as cotações do grão. O pesquisador da Associação Brasileira dos Produtores de Milho Antônio Lício afirma que o problema é a logística.
– Esta safrinha foi uma super safra e não faltou milho. No entanto, ele não chega às regiões do Nordeste. O milho é uma commodity no Brasil, regulado por preços da bolsa de Chicago, desdobrados até os níveis de portos e o interior do Brasil. Portanto, não adianta. O milho que é produzido no interior de Mato Grosso ou Paraná tem um preço só e é desdobrado por transporte. O problema do Brasil é o transporte, logística. O Nordeste, por exemplo, que é uma área de grande consumo de milho por sua forte avicultura, está na dependência de produtos provenientes do interior do MT, mas não tem rodovias satisfatórias. Ou, quando tem rodovias, está faltando caminhão, como acontece hoje – afirma.
Já o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho, afirma que não se pode mais culpar a logística. O momento, segundo ele, é crítico.
– A Conab pode ter um papel fundamental. O principal ator do setor é a Conab, mas ela passou por uma grave crise. É um ninho de partidos (políticos). Se tem 30 partidos brasileiros na base do governo, tem 30 diretores na Conab. Então, nós precisamos resolver essas questões. O agricultor bateu no teto, a agricultura brasileira está batendo no teto. A Conab é a empresa mais importante do país na questão de regular o mercado, entrar nele quando há excesso de produção, comprar, guardar e soltar quando falta o produto, para diminuir a volatilidade.