Luiz Gomes é produtor de soja em Palmas (TO) e colhe cerca de cem mil sacas por ano. Para escoar a produção, ele acessa a ferrovia dos Carajás para chegar até o porto de Itaqui, no Maranhão. Para utilizá-la, porém, Gomes precisa vender o produto por um preço determinado pela empresa que detém os direitos de concessão da ferrovia.
– A ferrovia não é para pequeno produtor. Serve para o pequeno produtor pra baixar custo da soja, mas você tem que entregar pra algum grande que tem acesso a ela – explica.
O Tocantins cresceu por causa da Ferrovia Norte-Sul, que corta o Estado em mais de 800 quilômetros. Com a obra de ampliação do porto de Itaqui, o local vai aumentar de 500 mil para cinco milhões de toneladas a capacidade do terminal de grãos do Maranhão. Mas a concessão pertence à companhia Vale, o que impede que outra empresa possa utilizá-la da mesma forma.
No ano passado, uma resolução da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) determinou que a companhia conceda o direito de passagem a qualquer produtor ou usuário. Foi decidido também que o controle de preços do transporte vai ser feito pela agência, fazendo com que o produtor não seja obrigado a aceitar os valores e condições impostos pela concessionária.
Na prática, no entanto, isso não acontece. Os pequenos produtores não conseguem usar a ferrovia, que é mais rápida e tem um custo bem menor. A alternativa é usar a rodovia, gastando mais e transportando por um tempo bem maior. O secretário de Agricultura de Palmas sabe das dificuldades enfrentadas pelos produtores.
– Se ele for um produtor independente, dificilmente vai tirar o produto daqui, aí você vai vender para as companhias nacionais. Mas pra sair para os países asiáticos fica mais complicado – explica Roberto Sahyum.
Para o secretário, a saída para enfrentar as grandes empresas é a união dos produtores para a utilização da ferrovia por um preço menor.
– Tem que socializar, botar mais trens, outras empresas. O futuro são os trens, a hidrovia e essas empresas têm como usar esse nicho de mercado e fazer o escoamento da soja, não só de Tocantins, mas do trecho norte de exportação. Esse local representa 32% do território nacional, já tem 10% da produção de grãos do Brasil. É um mercado a ser olhado diferente.