Dos cerca de oito mil existentes no país, apenas nove assentamentos em diferentes Estados foram visitados, e mil famílias entrevistadas. Os dados mostram que 37% dos assentados têm renda familiar de um salário mínimo.
Ainda de acordo com o levantamento, 35% têm renda entre um e dois salários mínimos e 26% têm renda de mais de dois salários mínimos. Segundo o Ibope, 1% dos assentados não respondeu à pesquisa.
Para a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), esse é um dos dados mais alarmantes da pesquisa.
? Talvez esse seja o dado mais crítico: cerca de 40% dos assentamentos pesquisados têm renda individual de um quarto de salário mínimo. Isso significa que temos 40% dos assentados vivendo em situação de extrema pobreza ? afirmou.
A senadora chegou a essa conclusão baseada na constatação de que cada domicílio pesquisado pelo Ibope tem, em média, 4,3 pessoas.
? Isso demonstra que um pedaço de terra não gera automaticamente renda. Não aprendemos a fazer reforma agrária. Essa pesquisa mostra que precisamos aperfeiçoar esse modelo, melhorar esse formato que não é adequado, pois não está gerando renda e não está focado na melhora de vida das pessoas. São favelas rurais que estão sendo criadas no campo ? acrescentou Kátia.
Para a senadora, são necessários ainda investimentos em tecnologia e assistência técnica na hora da comercialização do produto para realmente gerar renda para o agricultor.
A presidente da CNA também destacou outra constatação da pesquisa: a maioria dos assentados (75%) não tem acesso ao programa de crédito rural do governo. Kátia disse que entre os motivos podem estar a falta de documentação da propriedade, a falta de comprovação da produção como garantia para financiamento e a inadimplência.
A pesquisa também informa que 39% dos assentados são os primeiros beneficiários do programa de reforma agrária e 46% compraram a terra de outra pessoa. Segundo Kátia, isso mostra que há possibilidade de venda irregular de terra, porque, pela lei da reforma agrária, a terra só pode ser vendida depois de 10 anos e se for um assentamento consolidado, ou seja, com toda a infraestrutura necessária.
O levantamento mostra que a maioria das propriedades rurais tem entre 5 e 20 hectares (53%) e que as propriedades com mais de 50 hectares representam 15%, sendo que a média é de 29 hectares. Já a área destinada à produção é, em média, de 18,3 hectares.
Segundo a pesquisa, 63% dos assentados produzem na própria terra, mas 37% não produzem nada na sua propriedade. Dos que produzem, 27,7% produzem o suficiente para família e o restante da produção é comercializado; 24,6% produzem apenas o suficiente para alimentar a família e 10,7% não conseguem ter uma produção satisfatória para alimentar a família.
Outros dados destacados pela presidente da CNA são o alto índice de analfabetismo e o trabalho infantil . De acordo com a pesquisa, 21% são analfabetos, sendo que a média brasileira é de 9%. A maioria dos assentados (47%) tem até a 4º série do ensino fundamental e 12% têm o ensino médio ou superior. Já o trabalho infantil atinge 19% das crianças, sendo que nos assentamentos do Pará esse índice chega a 30%.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vai se pronunciar sobre a pesquisa. O levantamento do Ibope foi realizado de 12 a 18 de setembro deste ano em mil domicílios de nove Estados. A margem de erro é de três pontos percentuais.