Para ele além da ferrugem asiática existem ainda outras quatro doenças que devem ser observadas de perto para evitar problemas mais sérios
Quando falamos em doenças na soja logo vem a mente uma das principais, a ferrugem asiática. Mas, será que a preocupação do produtor deve se restringir a ela? Segundo o especialista e pesquisador da empresa Agrodinâmica, Valtemir Carlin, além da ferrugem outras quatro doenças tem causado problemas as lavouras de Mato Grosso: mancha-parda da folha (septoriose); crestamento foliar de cercospora; antracnose; mancha alvo
Para evitar que estas doenças não ganhem resistência as tecnologias atuais é preciso ter toda uma estratégia de manejo, afirma Carlin, passando pela época de semeadura, encurtamento do ciclo e principalmente o manejo e a rotação dos agroquímicos. “Isso tudo é imprescindível para esta durabilidade da tecnologia, compondo o que chamamos de manejo integrado, que juntamente com o monitoramento ajuda a ter sucesso no combate”, ressalta.
Para facilitar ainda mais a compreensão sobre estas doenças separamos dados da Embrapa com sintomas, condições de desenvolvimento e forma de Controle. O material foi retirado da Agência Embrapa de Informação Tecnológica (Ageitec).
Mancha-parda da folha (septoriose)
Sintomas
Nas folhas, surgem pontuações pardas, menores que 1 milímetro de diâmetro. Depois evoluem e formam manchas com halos amarelados e centros de contornos angulares, de coloração parda na face superior da folha e rosada na face inferior, medindo de 1 a 3 milímetros de diâmetro. Em infecções severas, causa desfolha e maturação precoce.
Condições de desenvolvimento
O fungo sobrevive em sementes infectadas e em restos da cultura. A infecção e o desenvolvimento da doença são favorecidos em condições de clima quente e úmido. A dispersão dos esporos ocorre através da ação da chuva e do vento. O fungo necessita um período de molhamento mínimo de 8 horas e a temperatura entre 15°C e 30°C para desenvolver os sintomas.
Controle
Devido à sobrevivência do fungo nos restos culturais, o controle mais eficiente pode ser obtido pela rotação de culturas, acompanhado da melhoria das condições físico-químicas do solo, com ênfase na adubação potássica. Em situações severas, o controle químico com pulverização de fungicidas é recomendado.
Crestamento foliar de cercospora
Sintomas
O fungo ataca todas as partes da planta. Nas folhas, os sintomas são pontuações escuras, castanho-avermelhadas, que se juntam formando grandes manchas escuras, resultando em uma severa queima superficial das folhas (crestamento) e desfolha prematura (Figura 1). Nas vagens, aparecem pontuações vermelhas que evoluem para manchas castanho-avermelhadas. Através da vagem, o fungo atinge a semente e causa a mancha púrpura no tegumento (Figura 2). Nas hastes, o fungo causa manchas vermelhas, geralmente superficiais, limitadas ao córtex.
Condições de desenvolvimento
O fungo está disseminado por todas as regiões produtoras de soja do País, porém, é mais severo nas regiões mais quentes e chuvosas, assim como e áreas mais altas dos cerrados. O seu ataque é favorecido por temperaturas na faixa de 23°C a 27°C e alta umidade. Pode ser introduzido na lavoura através de sementes infectadas se não forem tratadas com fungicidas, porém o mesmo sobrevive nos restos culturais.
Controle
O controle deve ser feito utilizando sementes livres do patógeno, tratamento de sementes com fungicidas com ação sistêmica e de contato, e aplicações na parte aérea, utilizando fungicidas dos grupos dos benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas.
Antracnose
Sintomas
Pode causar morte de plântulas, necrose dos pecíolos, manchas nas folhas, hastes e vagens, queda total das vagens ou deterioração das sementes em colheita retardada. As vagens infectadas adquirem coloração de castanho-escura a negra e ficam retorcidas; No período de granação, as lesões iniciam-se por estrias e evoluem para manchas negras (Figura 1). As partes infectadas podem ficar cobertas por pontuações. Sementes apresentam manchas deprimidas, de coloração castanho-escuras.
Condições de desenvolvimento
A antracnose é um dos principais problemas dos cerrados, devido à elevada precipitação e às altas temperaturas. Em anos chuvosos, pode causar perda total da produção, mas com maior frequência causa alta redução do número de vagens, induzindo a planta à retenção foliar e à haste verde. Uso de sementes infectadas e deficiências nutricionais, também contribuem para maior ocorrência da doença.
Controle
Usar sementes sadias, tratamento de sementes, rotação de cultura, espaçamento entre linhas de 50 a 55 centímetros, estande adequado e manejo adequado do solo, principalmente com relação à adubação potássica.
Mancha-Alvo
Sintomas
Causa lesões que se iniciam por pontuações pardas, com uma aureola amarelada, evoluindo para grandes manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura, atingindo até 2 centímetros de diâmetro. Geralmente, as manchas apresentam uma pontuação no centro e anéis concêntricos de coloração mais escura (Figura 1). Cultivares suscetíveis podem sofrer severa desfolha, com manchas na haste (figura 2) e nas vagens.
Condições de desenvolvimento
O fungo é encontrado em praticamente todas as regiões de cultivo de soja do Brasil. Sobrevive em restos de cultura e sementes infectadas, podendo colonizar uma ampla gama de resíduos no solo. Condições de alta temperatura e umidade relativa são favoráveis à infecção na folha.
Controle
Recomenda-se o uso de cultivares resistentes, o tratamento de sementes, a rotação/sucessão de culturas com milho e espécies de gramíneas e fazer o controle com fungicidas.
Ferrugem asiática
Sintomas
Podem aparecer em qualquer estádio de desenvolvimento em cotilédones, folhas e hastes. Os primeiros sintomas são minúsculos pontos, mais escuros do que o tecido sadio da folha, de uma coloração esverdeada a cinza-esverdeada (Figura 1), com correspondente protuberância (urédia) na página inferior da folha (Figura 2). As urédias adquirem cor castanho-clara a castanho-escura, abrem-se em um poro, expelindo os esporos cristalinos (figura 3) que se acumulam ao redor dos poros ou são carregados pelo vento. O tecido da folha ao redor das urédias adquire coloração castanho-clara a castanho-avermelhada.
Condições de desenvolvimento
A infecção depende de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo 6 horas. Temperaturas entre 15°C e 28°C são favoráveis para infecção. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, consequentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade (grãos verdes).
Controle
O controle químico é a ferramenta mais viável atualmente. Os fungicidas dos grupos dos triazóis e estrobilurinas têm-se mostrado mais eficientes para controle da doença. Além do controle químico, é importante semear cultivares mais precoces, eliminar plantas voluntárias de soja (guaxa ou tiguera) na entressafra e fazer o monitoramento periódico da lavoura para detectar a ocorrência da doença no seu início.