Considerada uma espécie de múltiplos usos, a gliricídia (Gliricidia sepium) é uma planta que pode gerar até 900 quilos de nitrogênio por hectare ao ano e, por isso, seu uso como adubo verde é bastante indicado. Mas, por se tratar de uma espécie arbórea que exigia o manejo manual, o seu uso nas unidades de produção era limitado. Visando o aproveitamento da leguminosa, pesquisadores da Embrapa Agrobiologia (RJ) desenvolveram um sistema de manejo mecanizado com uso de uma colhedora de forragem para o corte da gliricídia.
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A biomassa gerada tem diferentes aplicações. Ela pode atuar como adubação de cobertura, ingrediente para alimentação animal, em forma de silagem, ou ser usada na produção de fertilizantes. Originária do México, a planta tem porte médio e pode atingir até 15 metros de altura. Resistente à seca e com boa capacidade de adaptação, pode ser cultivada em praticamente todo território nacional.
Quando não podada, a gliricídia era cortada com um facão ou motosserra, o que resultava em um trabalho com muita penosidade. A ideia dos pesquisadores foi adaptar o manejo para viabilizar a colheita mecanizada. “Em vez de criar um novo equipamento adequado às condições da planta, resolvemos alterar o manejo dela, possibilitando a colheita com colhedora de forragem, sem necessidade de adaptação do implemento”, explica Ednaldo Araújo, pesquisador líder da equipe que desenvolveu o sistema.
Após avaliar a capacidade de rebrota em cinco alturas (0,3 m; 0,6 m; 0,9 m; 1,20 m; e 1,50 m), os pesquisadores constataram que a produção de biomassa não é influenciada de forma significativa pela altura da poda. O estudo revelou, ainda, que a capacidade de rebrota é a mesma após o corte manual ou mecanizado; assim, é possível realizar poda com altura entre 25 e 30 centímetros, o que permite o uso de uma colhedora de forragem. “Com o uso do implemento, o potencial de colheita de biomassa fresca é de até 40 toneladas por hora”, diz Araújo.
O pesquisador ressalta que a colheita mecanizada garante a rebrota da planta com altura uniforme, além de reduzir o tempo de operação quando comparada à colheita manual. “O interessante é que o material é colhido e triturado na mesma hora”, comenta o cientista. “Também reduz os custos de mão de obra, já que é necessário apenas um tratorista para fazer todo trabalho.”
O sistema desenvolvido inclui a produção de mudas com sementes inoculadas com uma bactéria fixadora de nitrogênio específica para gliricídia, preparo do solo com adubação e correção especial para garantir alta produtividade e longevidade do banco de biomassa. Além disso, o transplantio deve ser em espaçamento adequado e compatível com a mecanização.
Implantação do banco de biomassa
A gliricídia é reconhecida por sua capacidade de rebrota e, por isso, o plantio pode ser realizado tanto por estacas como por sementes. Mas a pesquisa constatou que a propagação via sementes tem a vantagem de proporcionar maior variedade genética, o que confere mais resistência à planta aos estresses ambientais. Também apresenta um sistema radicular mais profundo e extenso, tornando-a mais resistente à ação da colhedora.
Uma curiosidade dessa planta é que as sementes são liberadas de forma explosiva, o que faz com que elas possam ser dispersas a uma distância de até 25 metros. Assim, os pesquisadores orientam para que seja feito um monitoramento a partir do início da floração. “Geralmente a maturação ocorre entre 50 e 60 dias depois que as flores abrem”, explica Araújo. No Brasil, essa floração ocorre entre junho e outubro, época em que a espécie exibe todo o seu potencial paisagístico.
Segundo o pesquisador, o manejo na época chuvosa produz mais biomassa e a colheita pode ser feita em intervalos de três meses. “A nossa expectativa é que o agricultor consiga produzir de 25 a 30 toneladas de biomassa por hectare, podendo variar um pouco de um local para o outro e de acordo com o manejo”, comenta.
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