Pesquisadores discutem as mudanças climáticas e a agricultura

Encontro discutiu quais problemas os agricultores podem enfrentar nas próximas décadasO desenvolvimento da pesquisa é fundamental para buscar elementos que diminuam o impacto das mudanças climáticas na agricultura. Foi o que afirmaram os pesquisadores do Brasil e da Itália, que se reuniram nesta quinta, dia 13, no interior de São Paulo. Segundo eles, o trabalho agora não depende dos produtores.

Disponibilidade hídrica, que é a quantidade de água que a lavoura recebe, seja por chuva ou irrigação, foi a expressão mais ouvida durante o Workshop Internacional de Mudanças Climáticas, organizado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Pesquisadores se reuniram para expor e discutir quais problemas os agricultores podem enfrentar nas próximas décadas.

Segundo pesquisador da Secretaria do Governo do Estado de São Paulo e do IAC, Orivaldo Brunini, o novo cenário climático, com menor quantidade de água disponível, vai afetar as lavouras, mas não deve ser um impedimento ao cultivo.

? O maior impacto que temos observado é a questão da restrição hídrica. O deslocamento da estação chuvosa e a maior alternância dessas precipitações, causando até desastres. E também a redução em algumas regiões postergando a época de plantio do começo de outubro para o começo de novembro. Muitas culturas tem as condições de fazer uma adaptação ? pontua.

Segundo pesquisador científico do IAC, Gabriel Blain, neste momento o trabalho não está nas mãos dos produtores, mas, sim, dos pesquisadores.

? Por parte dos pesquisadores é muito importante o investimento em trabalho e atenção no melhoramento genético. Por exemplo, o desenvolvimento de culturas com sistema radicular mais aprofundado, ou seja, culturas que consigam enfrentar um período maior de estiagem.

Já o professor italiano de patologia vegetal, Andrea Vanini, afirma que o aquecimento global vai potencializar a ação de algumas pragas.

? Aumentar a diversidade biológica no sistema inteiro. Na fração de microorganismos e também aumentar a variedade genética do hospedeiro. Além disso, criar bancos de genes com variedade que podem resistir às mudanças climáticas ? ressalta.

O professor diz que a agricultura moderna é caracterizada pela baixa capacidade de reagir às mudanças. Isso ocorre por conta da utilização em larga escala da mesma variedade de sementes, fertilizantes e defensivos, que provocam uma diminuição dos microrganismos essenciais para a defesa do sistema.

Um ponto é unanimidade entre os especialistas, as mudanças climáticas vão ser sentidas por todos os países do mundo e é preciso agir em conjunto, investindo em pesquisa e compartilhando conhecimento. O pesquisador do Centro Euro-Mediterrâneo para as Mudanças Climáticas, Riccardo Valentini, acredita que Itália e Brasil tem muito o que dividir.

? Do ponto de vista de informação que a Itália pode fornecer ao Brasil, temos sistemas de previsão climática muito bons, que podem ajudar empresas agrícolas brasileiras, e modelos para estudar o impacto do clima na produção ? revela.

O pesquisador defende uma parceria para a utilização do avançado sistema de previsão climática italiano e os modelos para estudar o impacto do clima na produção.

? Nós sabemos que o investimento em pesquisa não é algo de lucro fácil, que investe hoje e amanhã já tem lucro. Mas sabemos que o investimento em pesquisa colabora ou é parte fundamental para uma sustentabilidade de longo prazo de uma nação. Não é à toa que as nações ricas, Estados Unidos e Europa, já investem, e pesado, há muito tempo em educação e pesquisa ? conclui Gabriel Blain.