• Milho Bt cria resistência a pragas e faltam sementes convencionais para refúgio em Mato Grosso
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– No campo o que se tornou bastante comum é a utilização de várias aplicações de inseticidas, a fim de conter a pressão de pragas no milho transgênico. A situação é mais frequente em tecnologias com maior tempo de utilização e que apresentam a expressão de apenas uma proteína Bt – explica Zeni.
A tecnologia Bt foi criada em 1997 nos Estados Unidos e há pouco mais de seis anos foi liberada para uso comercial no Brasil. Desde então, passou a ser utilizada em larga escala, acarretando a atual situação das lavouras. Isso porque, naturalmente, estes genes de resistência do milho Bt estão presentes nos insetos, em frequências bastante pequenas, conforme esclarece a entomologista.
– A partir do momento que trabalhamos com a tecnologia mais intensamente, iniciamos uma forte pressão de seleção destes genes de resistência, fazendo com que as populações de insetos resistentes aumentem.
Outro ponto importante que pode contribuir para a perda de eficiência da tecnologia Bt é a ausência de refúgios estruturados nas áreas de plantio.
– A utilização do refúgio estruturado continua sendo uma estratégia fundamental para prolongar a vida útil da biotecnologia. Algumas instituições e pesquisadores defendem a necessidade em aumentar o tamanho da área, a fim de garantir a multiplicação suficiente de insetos suscetíveis e a sua reprodução. A definição do tamanho atualmente está em reavaliação e o governo federal vem trabalhando na criação de leis que obriguem o cumprimento das exigências – aponta Zeni.
No refúgio é importante fazer o plantio de milho convencional com distância máxima de 800 metros do milho Bt. Assim, há o encontro das mariposas resistentes com as suscetíveis a tecnologia, evitando assim a evolução da resistência, destaca Vivan.
– Há várias formas de se fazer esse plantio, em faixas alternadas, nas bordaduras, em blocos maiores ou menores. O produtor deve adotar o desenho que melhor se adapte à sua situação.
Os pesquisadores orientam também com relação ao manejo do milho Bt.
– É preciso entender que a transgenia é mais uma ferramenta a ser inserida no Manejo Integrado de Pragas (MIP) e que não pode ser encarada como a solução para todos os problemas. É importante que o produtor realize o monitoramento a campo periodicamente e acompanhe a evolução dos índices das pragas ao longo do ciclo – orienta a entomologista. Ela ainda lembra que em casos de escape de pragas, a intervenção com outras medidas de controle, como defensivos, precisa ser adotada nos estágios e doses recomendadas, com tecnologia de aplicação adequada para a condição.
Lagarta do cartucho
A lagarta do cartucho é a praga que mais preocupa a classe produtora de milho no cerrado brasileiro. Mesmo havendo um complexo de pragas que atacam a cultura, inclusive do gênero helicoverpa, a Spodoptera frugiperda ainda representa as maiores perdas.
– Sua presença pode ocorrer desde os estágios iniciais, podendo ter hábito de rosca e comprometer estande de plantas; durante o período vegetativo, com danos expressivos nas folhas [cartucho]; e no período reprodutivo, pelo seu ataque nas espigas, ocasionando danos diretos a produção, além de promover porta de entrada para patógenos e outras pragas – detalha a entomologista da Fundação MT.
No milho convencional os danos são variáveis em função da fase de desenvolvimento em que a planta sofre o ataque, oscilando entre 17%, nos primeiros estádios, a 34% nos últimos de desenvolvimento vegetativo. Como hoje algumas tecnologias são atacadas como plantas convencionais, as perdas podem ser similares se não for realizado o controle.
Para os próximos anos, a classe produtora de milho pode esperar por parte das empresas o lançamento no Brasil de novos eventos biotecnológicos. De acordo com Zeni, eles devem contemplar dentre outros, genes para tolerância a estresse ambiental, maior eficiência na utilização de nutrientes, maior teor nutricional no grão e alta produtividade.
– No que diz respeito à tecnologia Bt, em curto prazo não devemos ter grandes novidades de genes e proteínas, mas sim novos eventos a partir da combinação de genes já utilizados (piramidação) – destaca o pesquisador da Fundação MT.
A piramidação é a junção de dois ou mais genes, que produzem toxinas com diferentes mecanismos de ação, em um único indivíduo.
– Esta combinação aumenta a durabilidade da eficiência da tecnologia, uma vez que reduz o risco de eventuais quebras de resistência das pragas alvo – finaliza.