A Circular Técnica é assinada pelo pesquisador Edson Ricardo de Andrade Junior (do IMAmt) e pelos professores Anderson Luís Cavenaghi (do Centro Universitário de Várzea Grande – Univag), Sebastião Carneiro Guimarães (da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) e Saul Jorge Pinto de Carvalho (do Instituto Federal do Sul de Minas – Machado/MG).
Segundo os autores, em 2014, durante atividades de um projeto de extensão, realizado pelo IMAmt, em parceria com o Univag e a UFMT (com apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão – IBA), plantas de cururu que não foram controladas por herbicidas aos quais são suscetíveis tiveram suas sementes coletadas e enviadas ao IMAmt.
– Nestas amostras, algumas plantas do gênero Amaranthus analisadas chamaram a atenção por não manifestarem qualquer sintoma de fitotoxicidade após a aplicação do herbicida glyphosate e por possuírem características morfológicas de Amaranthus palmeri – relatam os pesquisadores.
Em anos anteriores, segundo eles, várias amostras de populações de plantas do gênero Amaranthus já haviam sido constatadas como resistentes a herbicidas inibidores da ALS, mas foram adequadamente controladas pelo glyphosate e devidamente identificadas como A. deflexus e A. retroflexus.
– Em 2014, além da resistência aos herbicidas inibidores da ALS, algumas plantas também não foram controladas pelo glyphosate e permaneceram nos vasos até a fase adulta. Essas plantas foram avaliadas e, com suporte em literatura especializada, confirmadas como sendo da espécie Amaranthus palmeri S.Watson – informam os autores da Circular Técnica do IMAmt.
A identificação dessa espécie de planta daninha em lavouras de Mato Grosso é extremamente relevante, segundo o pesquisador Edson Ricardo Andrade Junior.
– Nos últimos anos, esta espécie se tornou a principal planta daninha do algodoeiro nos EUA, em função de suas características biológicas e da resistência a herbicidas de diferentes sítios de ação – explica. Amaranthus palmeri (família Amaranthaceae) é um tipo de caruru originário de regiões áridas do Centro Sul dos EUA e Norte do México, estando presente em vários países.
Algumas características de A. palmeri tornam sua presença em lavouras mais preocupante: ela é dioica, isto é, parte das plantas terão somente flores femininas (plantas “fêmea”), porém essas flores femininas podem produzir sementes mesmo sem a ocorrência de polinização. Além disso, o metabolismo fotossintético dessa planta é do tipo C4, o que lhe dá vantagens competitivas em regiões de clima quente.
– O crescimento é muito rápido (médias de 2 a 3 cm por dia), o que exige muita atenção para que as aplicações de herbicidas em pós-emergência sejam realizadas dentro do estádio ideal. Quando a população de A. palmeri não é controlada, perdas no rendimento das culturas podem atingir 91% em milho, 79% em soja e 77% em algodoeiro, segundo bibliografia norte-americana – alertam os autores da Circular Técnica do IMAmt.
RESISTÊNCIA A HERBICIDAS
Outro aspecto que preocupa os pesquisadores do IMAmt e das instituições parceiras é a resistência de A. palmeri a herbicidas. Nos EUA, há populações com biótipos de A. palmeri que apresentam resistência simples a herbicidas com cinco mecanismos de ação: inibidores da ALS, inibidores da EPSPs, inibidores da HPPD, inibidores da tubulina e inibidores do fotossistema II.
– O manejo dessas populações se torna ainda mais complexo com a ocorrência de resistência múltipla, que já foi detectada para dois ou três desses mecanismos – alertam os pesquisadores. Também já foram relatados biótipos com resistência a inibidores da ALS em Israel e da EPSPs na Argentina.
Andrade Junior e os professores envolvidos no estudo sobre a ocorrência da A. palmeri em Mato Grosso fazem algumas recomendações aos produtores em caso de suspeita ou confirmação da espécie em sua fazenda.
– Em razão da recente detecção e do espaço geográfico ainda restrito, os resultados das medidas para contenção poderão ser mais rápidos e, como eles, o retorno econômico, uma vez que tratamentos para controle de A. palmeri com resistência múltipla possuem custos bem mais elevados – afirmam.
Segundo os pesquisadores, estratégias múltiplas de controle de A. palmeri no mesmo talhão, utilizando métodos preventivos, químicos, mecânicos e culturais são fundamentais para conseguir um manejo eficaz dessa planta daninha.
– Vale ressaltar que herbicidas à base de glyphosate e inibidores da ALS não serão efetivos sobre essa população de A. palmeri – advertem os autores do estudo, que propõem uma política de “Tolerância zero” contra essa planta daninha, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.
A íntegra da Circular Técnica nº 19, contendo as práticas recomendadas por seus autores para o manejo de A. palmeri, pode ser lida no site do IMAmt.