Especialistas da Embrapa mapearam áreas do território brasileiro com condições mais favoráveis ao desenvolvimento do inseto-praga exótico Bactrocera dorsalis, ausente no país. Os mapas gerados subsidiarão políticas públicas para evitar o ingresso no Brasil da praga também conhecida como mosca-das-frutas-oriental.
Como grande parte das fruteiras são hospedeiras do inseto, a entrada do inseto-praga no país é uma ameaça à fruticultura nacional por conta dos possíveis danos causados às frutas.
- Estados lançam Rede Morangos do Brasil, com foco na redução de custos e aumento da produtividade
- Pinhão-manso mostra potencial para controlar praga que destrói culturas
A partir de avaliações bioecológicas do inseto e do zoneamento territorial, realizados pela Embrapa Meio Ambiente (SP) e Embrapa Territorial (SP), o estudo identificou a disponibilidade, em quase a totalidade do território brasileiro, das plantas hospedeiras.
As áreas com condições mais favoráveis ao desenvolvimento do Bactrocera dorsalis foram observadas de acordo com os meses do ano. O período entre julho a outubro é o que reúne a maior quantidade de municípios com essas ambientes.
Os resultados desses estudos foram enviados à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura (Mapa), para embasar medidas que evitem o ingresso da praga no país e ações imediatas de controle.
Zoneamentos das áreas favoráveis ao desenvolvimento da praga
De acordo com os zoneamentos realizados, nos meses mais críticos (julho a outubro), a menor quantidade de municípios com áreas favoráveis para o desenvolvimento foi verificada em julho – 923 locais. O mês com maior número de municípios foi setembro – 1.940.
O mês de abril apresentou apenas cinco municípios com áreas favoráveis ao inseto-praga presentes nos estados da Bahia e de Minas Gerais. Nos meses de agosto e setembro, municípios de 15 estados aparecem com essas condições. A região Sul surge com áreas favoráveis apenas no mês de novembro, em municípios do Rio Grande do Sul.
Nos zoneamentos territoriais dos municípios brasileiros, foram observados os dados climáticos (temperatura e umidade relativa) mensais do período de 2009 a 2018, e os principais cultivos de plantas hospedeiras do inseto presentes no Brasil com base no Censo Agropecuário de 2017. Os hospedeiros priorizados nos estudos foram abacate, banana, cacau, café, caju, caqui, laranja, limão, tangerina, feijão, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, melancia e tomate.
Reprodução e sobrevivência do inseto
O analista da Embrapa Rafael Mingoti, coordenador dos estudos de zoneamentos do projeto DefesaInsetos, conta que, a partir dos dados bioecológicos da praga disponibilizados no exterior, foram determinadas as condições climáticas que permitissem ao inseto sua maior taxa de deposição e eclosão de ovos, melhores desenvolvimentos das larvas, das pupas e dos adultos, maior reprodução.
“Esses estudos são parte crucial do trabalho. Depois dessas avaliações, fazemos a verificação por meio de geoprocessamento. Coletamos dados das médias mensais de temperaturas máximas médias e mínimas e de umidade relativa, com uma série histórica longa para todo o Brasil, e trabalhamos essa informação de modo que ela fique distribuída para toda a superfície” explica o especialista.
Mingoti destaca que os estudos bioecológicos realizados permitiram evidenciar que o B. dorsalis apresenta grande adaptabilidade e pode sobreviver em condições diversas. Sua sobrevivência, portanto, não está restrita a áreas em que as condições são ótimas para o seu desenvolvimento, porém, nessas locais são esperadas uma mais rápida adaptação e maiores quantidades de descendentes e número de gerações.
Sendo assim, essas condições foram priorizadas no estudo para a determinação de áreas brasileiras indicadas como prioritárias para o monitoramento territorial do inseto, dado que necessitarão de maior eficácia das estratégias de controle, caso o inseto ingresse no país.
Apoio às ações de monitoramento e controle
Líder do projeto de pesquisa DefesaInsetos, a pesquisadora da Embrapa Jeanne Scardini Marinho Prado chama atenção para a necessidade de agilidade na oferta de alternativas de monitoramento e controle que sejam capazes de reduzir, com eficácia, a população de uma nova praga.
Segundo ela, na maioria dos casos, a ausência de informações prévias sobre esses organismos exóticos faz com que a presença do inseto-praga tenha sua detecção postergada ou as estratégias de controle eficazes inviabilizadas. “Por essa razão, todo o trabalho desenvolvido é um importante instrumento de gestão territorial para apoiar as ações estratégicas do Programa estabelecido pelo Mapa e, consequentemente, prevenir maiores danos aos cultivos nacionais”, destaca.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Maria Conceição Peres Young Pessoa, o ingresso de uma praga quarentenária ausente no país pode ser mais preocupante quando esse inseto-praga encontra condições climáticas propícias para seu ótimo desenvolvimento e para sua rápida dispersão. Tal situação, segundo ela, pode ser agravada quando esses insetos são polífagos (ingere ampla variedade de fontes alimentares) favorecidos, como é o caso de B. dorsalis.
Na avaliação da titular da Coordenação de Proteção de Plantas da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, Graciane Gonçalves Magalhães de Castro, o risco de introdução e estabelecimento da praga no Brasil é muito alto, em consequência do aumento no fluxo de pessoas e de mercadorias provenientes dos países em que a praga vem ocorrendo nos últimos anos. Dessa forma, segundo ela, o zoneamento com a delimitação de áreas mais suscetíveis e definição de rotas de risco aporta informações de inteligência importantes para otimizar as ações de prevenção e vigilância executadas pelos técnicos do Mapa, em parceria com os órgãos estaduais de Sanidade Vegetal em todo o país.
“Os resultados desses estudos irão permitir o direcionamento da força de trabalho da vigilância para barrar uma eventual introdução ou tomar medidas de controle e de erradicação de um eventual foco de Bactrocera dorsalis. Isso será fundamental na estruturação do plano de prevenção e vigilância específico para essa praga”, afirma Castro.
Impactos econômicos
A fruticultura é um segmento importante da cadeia produtiva brasileira. O Brasil é o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador de frutas do mundo. A atividade gera em torno de seis milhões de empregos. “A Bactrocera dorsalis é uma praga de grande importância econômica e se for introduzida em nosso País, os impactos certamente serão muito grandes, tanto pelos prejuízos causados quanto pelos altos custos de controle”, comenta Graciane de Castro.
Os danos diretos causados pela praga são a redução da produtividade e da qualidade dos frutos. Como as larvas se alimentam da polpa dos frutos hospedeiros, eles se tornam impróprios para o consumo in natura e também para a industrialização.
Indiretamente, pode afetar as exportações em função das restrições quarentenárias impostas por países importadores, com a finalidade de prevenir a entrada e o estabelecimento do inseto. Outra consequência pode ser a dificuldade de acesso aos novos mercados importadores.
A única espécie do complexo Bactrocera que já se encontra presente no Brasil é a praga quarentenária B. carambolae. Para desenvolver ações de erradicação e controle dessa praga, também conhecida como mosca-da-carambola, o Mapa tem investido entre 20 e 25 milhões de reais por ano, sem contar os gastos dos órgãos estaduais envolvidos no controle dessa praga e os investimentos em pesquisas realizadas pela Embrapa. A estimativa é que o combate à B. dorsalis possa gerar custos ainda maiores.